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    José Henrique Mariante

    O Brasil é um país de malas e profissionais

    07/09/2017 02h00

    Olivier Morin - 2.out.2009/AFP
    ORG XMIT: 454401_1.tif Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro (Brasil), 2016: Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB (Comitê Olímpico Brasileiro), comemora depois que o COI (Comitê Olímpico Internacional) elegeu o Rio de Janeiro como a cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Por 66 a 32, o Rio bateu Madri no último turno de votação. Chicago e Tóquio já haviam sido eliminadas em rodadas de votação anteriores. *** Brazilian President Luiz Inacio Lula da Silva (R) and President of Rio 2016 Bid Committee Carlos Arthur Nuzman (L) rejoice on October 2, 2009 in Copenhagen. The International Olympic Committee (IOC) voted in Rio as the 2016 Summer Olympic city today after a final round battle in Copenhagen. AFP PHOTO / OLIVIER MORIN
    Nuzman, Lula e Sérgio Cabral comemoram a eleição do Rio a cidade-sede da Olimpíada de 2016

    SÃO PAULO - Houve tempo que homem da mala era apenas o sujeito que aparecia no vestiário para sensibilizar os jogadores em direção a um resultado. O país da Lava Jato mostra que temos muita valise solta por aí e gente disposta a carregá-las. Rodrigo Rocha Loures, filho de família rica, achou que valia carregar R$ 500 mil de Joesley. Geddel Vieira Lima, político tradicional, emprestou apartamento para guardar uma mega-sena acumulada.

    Busca e apreensão na casa de Carlos Arthur Nuzman encontrou cerca de R$ 500 mil em moedas variadas. O presidente do Comitê Olímpico Brasileiro é acusado pelo Ministério Público Federal e o da França de ser o homem da mala na votação que escolheu, em 2009, o Rio como sede olímpica. Por indicação sua, diz o MPF, Arthur Soares, empresário próximo ao então governador Sérgio Cabral, comprou o voto de um dirigente africano por US$ 2 milhões.

    Comprar voto para receber eventos esportivos é modalidade antiga. Salt Lake City-2002 derrubou dez membros do Comitê Olímpico Internacional. Outros tantos irão agora. A escolha de Rússia e Qatar para as duas próximas Copas desarranjou a Fifa. País do futebol, o Brasil frequentou ativamente esse maleiro: João Havelange, Ricardo Teixeira, José Maria Marin e Marco Polo Del Nero foram ou estão sendo processados nas Justiças americana e europeia.

    Eventos esportivos são caros, geram contratos, e malas brotam do chão por eles. Ingênuo ou pilantra quem imaginou que Copa e Olimpíada consecutivas aqui teriam destino diferente. Como explicou Lula em discurso em 2010, "pela primeira vez, nós fomos disputar uma Olimpíada de forma profissional, arquitetada antes, planejada antes. Alguns falavam: 'Nossa, mas o Brasil está gastando dinheiro'. Quem quiser fazer de graça, vá disputar para ver se ganha. Tem que contratar profissionais. Eu ganhei a eleição para presidente assim, meu filho..."

    Somos um país de profissionais.

    josé henrique mariante

    Engenheiro e jornalista, é secretário-assistente de Redação da Folha, onde trabalha desde 1992

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