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    José Henrique Mariante

    Imagem é tudo

    14/09/2017 02h00

    Adriano Machado - 7.set.2017/Reuters
    Brazil's billionaire businessman Joesley Batista is pictured at the Brasilia international airport, after testimony in Brasilia, Brazil, September 7, 2017. REUTERS/Adriano Machado ORG XMIT: UMS1
    O empresário Joesley Batista, dono da JBS

    SÃO PAULO - Estudo realizado em Stanford mostra que a inteligência artificial é mais efetiva que a humana para identificar quem é gay apenas observando sua fotografia. Em números, 81% de acerto contra 61%. Implicações éticas e tecnológicas à parte, o que surpreende não é a efetividade da máquina, que, em princípio, busca a perfeição, por mais idiota que esta seja.

    Metade das pessoas é capaz de identificar a orientação sexual de alguém apenas olhando para sua imagem. Ainda que, como filosofou Clodovil, boi preto reconheça boi preto e nossa população bovina seja muito maior que a imaginada, a capacidade humana soa razoável. Não terá sido anabolizada pela necessidade de afirmação de retratados ou pelo preconceito de observadores?

    Outro estudo, muito menor, feito por articulista do "The New York Times", mostra que os muito ricos de Manhattan têm necessidade de esconder que são muito ricos. A autora entrevistou 50 deles. Uma mãe conta que tira as etiquetas das roupas da criança para que a babá não veja os preços. Outra que alterou o endereço para não revelar que mora em uma cobertura.

    A ideia comum é minimizar a sensação de desigualdade, parecer "normal", como afirma um dos entrevistados. Uma grande bobagem, diríamos pobres mortais, que se explica pela necessidade óbvia de não ser confundido com quem ostenta. E a não tão evidente de se justificar uma exceção: sou muito, muito rico, mas, acredite, sou uma pessoa correta e quero parecer correta.

    No Brasil, não precisamos de estudos, pois vivemos de certezas. Vamos parecer cuidadosos se evitarmos que crianças e adolescentes vejam em um museu o que recebem diariamente em seus celulares. Vamos parecer mais ricos se mostrarmos que somos ricos, não importa tanto como alcançamos a riqueza.

    Talvez precisemos de uma inteligência artificial para apontar falsos moralistas e corruptos.

    josé henrique mariante

    Engenheiro e jornalista, é secretário-assistente de Redação da Folha, onde trabalha desde 1992

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