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    José Luiz Portella

    Santa Maria do Brasil

    31/01/2013 15h36

    A questão fundamental é Atitude. Mudar a atitude. Deixarmos de nos enganar e resolver fazer as coisas bem feitas.

    Parar de usar comodamente a tolerância como forma de evitar o conflito. Parar com o jeitinho com coisas sem jeitinho.

    Não adianta agora ir atrás do manual de segurança para boates, sair fiscalizando, criando regras. E daqui a 15 dias, assunto fora da mídia, voltar à vida normal e deixar o tempo esvanecer o assunto.

    Embora tenhamos melhorado nos tempos mais recentes, em termos de atenção para com o meio ambiente, com a sustentabilidade, estamos longe de ter a decisão de cuidar do coletivo como algo que pertence a todos e a cada um. E de respeitar as normas necessárias para um bom funcionamento, ainda que atinja nossos interesses particulares. Vícios privados sobrepõem-se aos benefícios públicos.

    No exterior, temos vergonha de jogar um papel de bala na praça ou na praia. No Brasil, ficamos constrangidos a alguém que jogue, com a maior desfaçatez, com a maior tranquilidade, a lata de cerveja e o lixo na praia de Copacabana. Você vira o chato.

    Na verdade, são dois problemas: a atitude e o autoengano.

    Custódio Coimbra/Divulgação
    Praia do Catalão (RJ), imagem no livro "Baía de Guanabara - Biografia de uma paisagem" de Eliane Pinheiro
    Praia do Catalão (RJ), imagem no livro "Baía de Guanabara - Biografia de uma paisagem" de Eliane Pinheiro

    É doce nos embalarmos com a visão do país da alegria, da amizade, da hospitalidade, do jeitinho criativo que resolve problemas. Parte dessas virtudes assumidas é de fato realidade e é positivo. O problema: parte é um exagero que camufla nossos vícios.

    O Brasil é um dos países mais violentos do mundo. Violência doméstica, no trânsito, violência no cotidiano. Os números não mentem.

    O país da alegria e da amabilidade é um dos maiores consumidores de tranquilizantes e antidepressivos no Planeta. E notável consumidor mundial de drogas; entre elas o crack.

    Ainda no rescaldo da boate acontece a queda do alambrado do novo campo do Grêmio. As pessoas deveriam estar sentadas. Por conta de uma dita tradição, parte do estádio foi destinada à torcida da avalanche. Quando houve a recusa um comandante dos bombeiros foi acusado de ser torcedor rival, do Colorado. Foi-se ao governo. Tolerou-se. No primeiro jogo, caiu. É assim.

    O mar é menos rosado do que contamos para nós mesmos.

    A principal providência não é sair atrás de normas e leis, que na prática são uma barafunda em que se cruzam leis federais, estaduais e municipais com normas técnicas como ABNT e responsabilidades nada claras, à procura do culpado da vez.

    Isso serve para nos isentar de culpa. Desculpa-nos.

    O caso não foi isolado; 90% dos municípios brasileiros não têm suas casas de espetáculos (todas inteiramente) certificadas. É questão cultural; não episódica.

    Em São Paulo, 70% do comércio está irregular com relação ao que chamamos de Habite-se, hoje Auto de Licença de Funcionamento Condicionado. Muitas dessas irregularidades colocam os locais em risco.

    Em 2011, a Câmara Municipal deu o prazo de até 31 de março de 2013 para todos esses estabelecimentos ENTRAREM com a solicitação de regularização. Depois, eles ainda têm dois anos, prorrogáveis por mais dois (5 anos) para se regularizarem.

    Importante saber se em março de 2013 quem não entrar com o pedido será interditado. A chance maior é mais uma dilação de prazo. Mais uma vez. A atitude em vigor é assim.

    A questão principal é atitude. Se a sociedade mudar, muda o Brasil.

    Santa Maria será um marco dessa mudança. Se. Se o Brasil mudar de atitude.

    Jefferson Bernardes/AFP
    Alambrado da Arena Grêmio cai durante comemoração do gol de Elano
    Alambrado da Arena Grêmio cai durante comemoração do gol de Elano

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