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    José Luiz Portella

    Manifestações: políticos não entenderam

    04/07/2013 03h00

    Depois de tudo o que aconteceu, Henrique Alves, presidente da Câmara Federal, pega avião da FAB, em Natal, e sem nenhum compromisso oficial de verdade, vai com a namorada e a respectiva família ver o jogo no Rio de Janeiro.

    Evita gastar singelos R$ 9.700,00. Ele tem posses e a família é uma das mais poderosas do Rio Grande do Norte. Não foi isso, a economia. Foi uma demonstração de poder e privilégio dado à namorada.

    Seu colega de partido, Renan Calheiros, é um dos alvos das manifestações que pedem para ele renunciar.

    Até agora, Alves estava alinhado a tantos outros políticos que passaram a se submeter a qualquer reivindicação para não entrarem na alça de mira dos manifestantes. De repente, pisa na bola em pleno Maracanã.

    Como ele pode viajar nas asas da FAB para ver um jogo de futebol no Rio?

    Reprodução
    Arturo Filho e a mulher Larissa, passageiros do voo da FAB, ele é irmão de Laurita Arruda, noiva de Henrique Eduardo Alves
    Arturo Filho e a mulher Larissa, passageiros do voo da FAB, ele é irmão de Laurita Arruda, noiva de Henrique Eduardo Alves

    Não só ele, como outros políticos, muitos bem experientes, estão cometendo um grande erro de diagnóstico. Acham que houve só uma dor de barriga, uma catarse coletiva que dá e passa.

    E tudo voltará a ser como antes, no quartel de Abrantes. Ou seja, apostam que vai dar para repetir o modelo antigo onde representante pode desconhecer o representado e negligenciá-lo.

    As manifestações estão mais para patologia autoimune. Aquela que não tem cura. O atingido precisa aprender a conviver com a doença e respeitá-la.

    Não creio que a maioria da população vá olvidar os desmandos e desvios. Dar-se por satisfeita com as manifestações e ir para casa docemente. Mas muitos políticos consagrados sim.

    Estão esperando a raiva passar.

    Creio que as manifestações vão diminuir. Não dá para se eternizarem. Contudo, a mentalidade dos cidadãos mudou. Mudou para valer. Descobriu-se que, de fato, o poder emana do povo. E quando por ele é exercido com a demanda clara, os representantes se rendem.

    Esse ganho de poder não vai se esvair assim tão cedo. O marqueteiro João Santana, que é inteligente, entrou nessa roubada de crer que é só uma dor de barriga. Ele não tem a menor condição de prever que Dilma vá recuperar o prestígio em quatro meses. Todavia, o fez. Mostra muito mais o desespero de quem, por ter se achado "comandando a massa" com o sucesso de campanhas, precisa dar uma resposta à cliente. E procurou convencer os apoiadores (vulgos stakeholders, para a turma do marketing). Não pode fazê-lo porque isso é praticamente inédito, na forma em que se deu, e ele não tem nenhuma base histórica para fazer projeções.

    Vários políticos, embora venham com o discurso de que é preciso fazer algo de novo, têm entoado os mesmos velhos discursos dos tempos dos nossos pais, como diria a música.

    A nossa dor é perceber que, apesar de tudo o que se fez (nas ruas), a maioria continua a mesma, apostando que tudo voltará ao velho regime. E que as mesmas opções eleitorais de antes recuperarão todos os velhos níveis de intenção de votos.

    Não enxergaram, pelo menos, que onde se viu o crescimento de Marina, dos clássicos a mais "anti isso aí". E, onde se lê Joaquim Barbosa, significa alguém diferente e que esteja disposto a romper com os costumes.

    Se não for ele, aparecerá outro. Collor surgiu um tanto assim.

    É impossível não perceberem.

    Realmente, nossos representantes estão se arriscando a um bye-bye, Brasil! Sumirem como a última ficha que caiu.

    Henrique Alves foi a expressão desse filme que passa todo dia no Congresso Nacional.

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