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    Josimar Melo

    Comida para turista ver

    25/06/2015 02h00

    Algumas cidades ganham fama por certas características que encantam os turistas –e uma delas é a gastronomia. Hoje, a procura por destinos onde se possa comer bem está em alta; e também está em alta a preocupação das autoridades locais para que países e cidades mostrem o que há de melhor e mais apetitoso a quem vem de fora.

    Mas nem por isso a imagem que se tem dos lugares corresponde automaticamente à realidade.

    É o caso dos destinos gastronômicos. Durante muito tempo, eram poucas as cidades ou países que tinham a fama de alimentar bem seus visitantes a qualquer hora ou lugar. Acreditava-se que na França e na Itália nunca haveria erro, assim como Londres e Nova York seriam eternas armadilhas. E ponto.

    Os demais países teriam a oferecer suas pirâmides, suas praias, seus cassinos, e a comida seria somente um acessório.

    Hoje mudaram essas percepções. Por um lado, surgem novas mecas da gastronomia, locais que, mesmo sem uma tradição tão arraigada como a França, são hoje reconhecidos por terem atrativos também para o paladar. Provavelmente a lista dos 50 melhores restaurantes do mundo, lançada há 12 anos em Londres, ajudou a contar para o mundo que mesmo locais como Espanha, Brasil, Dinamarca, Peru, África do Sul, Cingapura, entre tantos, têm atrações no ramo da gastronomia.

    Mas ninguém ainda escreveu (creio eu) sobre outro aspecto dessa curiosa mudança de foco: o fato de que nem sempre as cidades onde melhor se come são aquelas onde se come melhor no cotidiano do turista. Paris é o exemplo mais dramático: sede de restaurantes (e produtos e profissionais) de uma excelência gritante, é também uma cidade onde, para o turista desavisado, a armadilha mora ao lado.

    A romântica ideia de que, ao se flanar por Paris, basta entrar no primeiro café ou bistrô para aplacar regiamente a fome está longe de corresponder à realidade. O afluxo do turismo é tamanho, e a imagem de boa cozinha é tão consagrada, que não faltam armadilhas montadas a cada esquina, onde se vai comer mal e pagar muito.

    A fórmula de salvação é simples: em Paris, vá comer com uma lista à mão (pode ser o guia de sua preferência, pode ser a indicação de amigos, só não entre a esmo na primeira porta que parecer charmosa).

    Acho que essa precaução não é tão imperativa em locais mais simples onde se come muito bem –logo Lisboa me vem à cabeça: ali não há nenhum restaurante no nível de qualidade dos melhores de Paris, mas, em compensação, é muito grande a chance de se comer bem (e barato) em lugares simples que se encontre totalmente ao acaso.

    E provavelmente o melhor lugar do mundo para se comer, contabilizando os dois fatores, é Tóquio –onde se pode encontrar excelência totalmente ao acaso no pequeno restaurante familiar e barato do quarteirão, assim como também é possível visitar restaurantes que estão entre os melhores do mundo.

    Em tempo: passando esses dias rapidamente por Paris, tendo poucas refeições disponíveis, fui direto no certo: comida de bistrô no Comptoir du Relais, alta cozinha francesa no Le Meurice, e para olhar um pouco para o mundo, menu cantonês no LiLi e cozinha italiana moderna no Caffè Stern.

    josimar melo

    Josimar Melo é crítico gastronômico, autor do 'Guia Josimar' de restaurantes, bares e serviços de SP. Escreve às quintas, a cada duas semanas.

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