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    Josimar Melo

    Milão, 30 anos em 3

    23/07/2015 02h00

    Depois de três anos longe, estive na semana passada em Milão. O circuitinho fashion continua o mesmo, mas a cidade mudou.

    Da última vez, eu via, da janela do hotel Principe de Savoia, um cenário devastador. Um quarteirão inteiro posto abaixo e transformado em gigantesco canteiro de obras, tomado por guindastes e entulho.

    Agora, na mesma direção vejo a praça Gae Aulenti, um complexo de edifícios modernos onde se destaca um arranha-céu de vidro encimado por um pináculo em espiral pontiaguda (novo símbolo no skyline da cidade), além de, nas proximidades, dois prédios residenciais de onde pendem abundantes jardins.

    Não achei nada muito belo nem ousado. Mas não resta dúvida de que se abriu um respiro urbanístico na cidade. Como turista, agora sempre vou lembrar de Milão tanto pelo magnífico Duomo quanto pelo pontudo edifício a três quilômetros de lá.

    Mas também os moradores foram impactados pela mudança. Nada nunca muda na Itália, me disseram amigos de lá; e de repente, contaram, nesses últimos três anos a cidade mudou mais do que em três décadas.

    O motor das transformações, ou pelo menos seu pretexto, foi a realização da exposição mundial, a ExpoMilano, evento que a cidade recebe desde maio.

    A expectativa de ficar no centro de uma maré turística (10 milhões de pessoas já visitaram a feira, que abriu em maio e vai até outubro), estimulou a criação de intervenções urbanísticas e paisagísticas que vieram para ficar: já são parte do perfil da cidade.

    Teria sido bom que no Brasil o investimento na Copa do Mundo tivesse deixado frutos urbanísticos; ou que a Olimpíada no Rio deixe um legado paisagístico na cidade –como em Barcelona. Algo que poderia ocorrer mesmo na maré da corrupção que engolfa nossas grandes obras –afinal, não tenho dúvidas de que na terra em que Berlusconi é rei (na política e na economia), a corrupção corre solta; mas, ainda assim, algo se fez em Milão com tanto dinheiro empenhado.

    COMER, BEBER

    Falando em Milão: o estrelado restaurante de Carlo Cracco (ristorantecracco.it) –que virou celebridade e enriqueceu com o "MasterChef"– continua despertando interesse em boa parte do que serve, mas com alguns pratos sem sentido nem sabor (sem falar de um sommelier, Andrea Ostorero, incapaz de servir decentemente).

    No outro extremo, a Trattoria Milanese (via Santa Marta, 11), com um certo ar de cantina paulistana, à la Gigetto, serve com dignidade a "comfort food" local: porcini frescos salteados, tortellini (além do ponto, é verdade) com molho do assado, milanesa (crocante) e ossobuco (delicado) de vitelo.

    O Eataly (eataly.net), com uma disposição vertical que lembra o de São Paulo (e contrasta com o de Nova York), continua bombando e oferecendo produtos –do polvo à carne dry-aged– de babar.

    O 10 Corso Como (10corsocomo.com) se mistura com uma loja, galeria de arte e um jardim, na badalada rua onde a noite ferve; a comida impressiona menos que o lugar.

    Já o Ceresio 7 (ceresio7.com) impressiona pelo lugar (moderno, com piscinas para os clientes e vista para a nova Milão) e cativa pela cozinha. Aqui a noite também bomba, e o negroni é feito a sério; como também, desde sempre, no classudo bar do Principe de Savoia (tinyurl.com/pbbnjpf), antessala para um jantar no ajardinado Acanto, no hotel.

    josimar melo

    Josimar Melo é crítico gastronômico, autor do 'Guia Josimar' de restaurantes, bares e serviços de SP. Escreve às quintas, a cada duas semanas.

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