O fechamento do Gigetto é motivo de consternação para a cidade, embora talvez não para um grande público, que já não o frequentava mesmo quando ainda ficava no histórico ponto da rua Avanhandava.
Ali se fixara em 1949, depois de 11 anos na rua Nestor Pestana, e ali se tornara um ponto boêmio, especialmente da turma de teatro, mas também das de outras artes —fossem as dos que as produziam, fossem as do seu público.
Cantina italiana é uma marca de São Paulo. Na Itália é diferente. Chama-se trattoria —cantina, afinal, é onde se faz vinho— e serve tanto massas e carnes quanto pizzas; aqui, tendem a ter locais exclusivos.
Eduardo Knapp/Folhapress | ||
Polpettone ao sugo da Cantina Jardim de Napoli, mais jovem membro da velha-guarda ítalo-paulistana |
Lembrar o Gigetto nos incentiva a visitar outras casas sexagenárias, ou mais, nascidas da tradição dos migrantes italianos que chegaram na virada do século passado.
A mais emblemática segue sendo a Castelões (de 1929), onde convivem pratos cantineiros e de pizzaria, mas em região pouco gastronômica, mesmo para seus moldes. A mais bem-sucedida é a Jardim de Napoli, mais jovem (1949), mas que melhor tem se adaptado ao tempo.
Mais velho, embora tenha fechado por três anos, o Carlino opera no centro e abre só no almoço –os atuais donos assumiram em 1974. Perdeu o cetro da antiguidade ao Capuano, desde 1907 ativo ininterruptamente e há 55 anos no mesmo local, o Bexiga, embora nascido na rua Major Sertório.
Ainda no Bexiga, temos a Roperto (de 1942) e, fora do circuito mais comum, a Cantina 1020 (de 1948), no Cambuci, e a curiosa pizzaria Bruno, de 1939. Na Freguesia do Ó, esta não serve massas, só pizzas, mas... Fritas! Ainda que em forno a lenha.
Isso tudo para falar apenas de casas abertas antes de 1950. Com diferentes qualidades e defeitos, todas merecendo uma visitinha. Mas precisam ficar espertas: restaurantes não são museus, têm de mostrar o passado de uma forma autêntica, mas palatável ao presente.
Josimar Melo é crítico gastronômico, autor do 'Guia Josimar' de restaurantes, bares e serviços de SP. Escreve às quintas, a cada duas semanas.