• Colunistas

    Saturday, 04-May-2024 14:34:08 -03
    Josimar Melo

    Torre Eiffel, em Paris, é exceção entre monumentos famosos

    20/07/2017 02h00

    Philippe Wojazer-14.jul.2015/Reuters
    Vista aérea da Torre Eifel em Paris
    Vista aérea da Torre Eifel em Paris

    Viajando sem sair de casa, durante um programa infantil, assisti ao filme de animação franco-canadense "A Bailarina". Um dos personagens laterais é Gustave Eiffel, que na cronologia do filme (no final do século 19) dirigia a construção da torre com seu nome na esplanada do Campo de Marte, em Paris; e simultaneamente erguia a estátua da Liberdade, que foi construída primeiro na França, como teste, antes de ser desmontada e enviada a Nova York.

    O engenheiro associou seu nome a obras emblemáticas de várias cidades –como a ponte Maria Pia (anterior, de 1877) sobre o rio Douro, que liga as cidades do Porto e Vila Nova de Gaia no norte de Portugal.

    Eiffel foi dos poucos que, em sua época, deixou marca em vários países –hoje, num mundo bem mais globalizado, é mais comum haver arquitetos com obras marcantes em diferentes países. São muitas as cidades que têm obras que são cartões de visitas mundialmente identificados –mas nem sempre com uma autoria tão conhecida quanto o monumento em si. O caso da torre parisiense é exceção, porque terminou sendo conhecida pelo nome do seu autor.

    O que, no caso de Eiffel, pode ter trazido dissabores no início, já que boa parte da intelectualidade da época tinha ojeriza por aquela bizarra estrutura erguida para a Exposição Mundial de 1889 que aconteceria na cidade.

    Assinada por luminares como o escritor Émile Zola, foi lançada uma carta de protesto dos "artistas contra a Torre do Sr. Eiffel". O poeta Paul Verlaine dizia que mudara seu caminho diário para casa, para não ter que avistar aquele monstruoso "esqueleto".

    Mas moradores e turistas, concordando ou não em que a aparência da torre destoava da harmônica arquitetura da cidade, foram bem mais receptivos à obra: acorreram em multidões para escalá-la desde sua inauguração. Afinal, a torre é no mínimo um lugar privilegiado para admirar a cidade cuja estética ela parecia comprometer. E assim, concebida para durar somente durante o período da Expo, como um pavilhão a ser desmontado em seguida, lá está ela até hoje.

    Outros monumentos tornaram-se marcantes, mas sua autoria é quase ignorada mesmo pelas populações locais. A própria estátua da Liberdade, que embora construída com o envolvimento direto de Eiffel, tem seu nome ignorado pela população novaiorquina.

    E o Cristo Redentor do Rio de Janeiro, cujos direitos de imagem são até hoje disputados, a quem devemos? (Ao engenheiro brasileiro Heitor da Silva Costa, que projetou a estátua, ao escultor franco-polonês Paul Landowski, e ao escultor romeno Gheorghe Leonida, que fez o rosto do Cristo depois de ficar conhecido ao ganhar um Grande Prêmio em Paris por sua obra ironicamente intitulada... "O Diabo"!).

    Saindo do vasto terreno dos monumentos, há obras arquitetônicas que também passam a representar a imagem das cidades, mesmo tendo os autores ignorados por moradores e turistas.

    Quem desenhou a arrojada e púrpura Golden Gate de San Francisco? (Foi o engenheiro americano, de origem alemã, Joseph Strauss.) E a torre do Big Ben em Londres (foi o arquiteto Charles Barry). Ou, na mesma cidade, o edifício apelidado pelos ingleses de "pepino"? Foi o arquiteto inglês Norman Foster, para cuja sorte o projeto não foi para o Brasil –ou aqui, no lugar do inocente pepino, viraria "pirocão" ou algo assim.

    NA ESTRADA

    Tenho procurado (já mencionei aqui) comer de vez em quando na estrada. O último experimento foi no Quinta do Marquês (km 57 da rodovia Castelo Branco, SP). Achei seu prato de resistência, leitão à moda da Bairrada, muito bem assado, embora o sabor deixasse a desejar.

    Mas a surpresa veio na sugestão distraída do garçom: um vinho em promoção, por R$ 47,90, o Porca de Murça 2013, do Douro. Ora pois: um vinho cotado pela revista "Wine Spectator" com 90 pontos! Não lhe daria tamanha nota, mas pelo preço não só bebi como levei mais alguns estrada afora.

    josimar melo

    Josimar Melo é crítico gastronômico, autor do 'Guia Josimar' de restaurantes, bares e serviços de SP. Escreve às quintas, a cada duas semanas.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024