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    Josimar Melo

    A experiência em dois hotéis de Hollywood e a decepção em Nova York

    23/11/2017 02h00

    Fred Prouser/Reuters
    Ossada suspeita de ser de João Leonardo da Silva Rocha, morto na ditadura militar, é exumada em Palmas do Monte Alto (BA)
    Placa na Rodeo Drive, famosa rua de compras em Beverly Hills, onde fica o hotel Beverly Wilshire

    Hotéis não podem viver apenas da fama e da história, precisam fazer jus a elas. Na Califórnia fui feliz em dois endereços literalmente hollywoodianos, com diferentes estilos.

    O Beverly Wilshire é uma mão na roda para turistas endinheirados –a Rodeo drive, rua das grifes mais caras do planeta, desemboca praticamente na portaria do hotel.

    Mas, além de ser destino de turistas, o hotel (hoje do grupo Four Seasons), se tornou ele mesmo atração turística, ao virar cenário do filme "Pretty Woman", de Garry Marshall (1990), com Julia Roberts e Richard Gere. Todos querem ao menos tomar um drinque no "hotel da 'Pretty Woman'".

    E esse papel eles cumprem muito bem. O showbiz fervilha por ali, com bar animado, mesinhas na rua, e o competente restaurante de carnes Cut, do chef Wolfgang Puck.

    Isso e mais quartos confortáveis, bonita piscina (ainda que modesta, se comparada ao de um Copacabana Palace) e um serviço atento mesmo com quem, como eu, é um cliente anônimo sem cara de superstar.

    Uma sensação diferente –mas de igual imersão hollywoodiana– é passada pelo hotel Bel-Air. Ao contrário do bochicho da Rodeo drive, o Bel-Air fica retirado, incrustado num frondoso jardim de 50 mil metros quadrados. Se o Wilshire é onde as estrelas querem se mostrar, o Bel Air é onde querem se esconder.

    Os apartamentos são chalés. A piscina oval, rodeada por árvores frondosas, está entre os melhores de hotéis urbanos. Um lago de cisnes espera os hóspedes na entrada.

    Embora pertença a outro grupo hoteleiro, o restaurante –Wolfgang Puck at Hotel Bel-Air– é assinado pelo mesmo chef do Beverly Wilshire. Palco de chiliques históricos de estrelas como Elizabeth Taylor, aqui o chef serve um menu californiano contemporâneo.

    A boa experiência em Los Angeles contrastou com a decepção em outro hotel icônico longe dali, o New York Palace, hoje da cadeia Lotte. Estive ali no ano passado para conhecer a ala premium, chamada Towers, com serviço de mordomo, quartos enormes e vista deslumbrante.

    Dessa vez, estava na cidade a trabalho por convite da italiana Illy Caffè, que anualmente faz um concurso para premiar grãos que compõem o blend do seu café espresso.

    Neste ano fui um dos nove jurados, no evento que aconteceu no edifício das Nações Unidas, que me encanta pela arquitetura, pela decoração e pela vista (apesar de a ONU ser só uma piada de mau gosto).

    A organização do concurso (em paralelo a um seminário) foi impecável, da alta qualidade dos cafés concorrentes (um dos quais, do Brasil –o vencedor foi o de Honduras), até a precisão com que as amostras eram tiradas.

    Para instalar suas dezenas de convidados com charme e conforto, a Illy Caffè nos hospedou no New York Palace. Onde desta vez tive uma experiência oposta.

    Não fiquei na luxuosa área da Towers, o que não deveria ser um problema, mas realmente senti o contraste entre a vista anterior (via os dois rios da cidade, e, em baixo, a catedral de St. Patrick) e a desta vez –um paredão, e logo abaixo, as chaminés das casas de máquina.

    Todo dia o grupo relatava os problemas do hotel: além da recepção fria e mal-humorada, em meu quarto ninguém notava que o banheiro estava sem tapetes; em outro, o frasco de xampu estava fechado, mas vazio; num terceiro, o copo deixado com água estava recolocado no lugar, mas ainda com os restos.

    E era impossível tomar o café da manhã: o local (o belo salão que um dia sediou o restaurante Le Cirque) era tão pequeno que produzia fila de 20 minutos, impensável para começar um dia de trabalho (e impensável num hotel desse nível).

    josimar melo

    Josimar Melo é crítico gastronômico, autor do 'Guia Josimar' de restaurantes, bares e serviços de SP. Escreve às quintas, a cada duas semanas.

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