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    Supremo, esse famoso desconhecido

    FELIPE RECONDO
    DO 'JOTA'

    09/03/2017 02h00

    Pedro Ladeira/Folhapress
    Sessão no plenário do STF, em dezembro
    Sessão no plenário do STF, em dezembro

    Lá se vão quase 50 anos da publicação de um livro clássico, cujo título ainda hoje faz algum sentido: "O Supremo Tribunal Federal, Esse Outro Desconhecido". Aliomar Baleeiro, ministro do STF e autor do livro, chamou para si a incumbência de explicar, em 206 páginas, o funcionamento do tribunal. Nesta quinta-feira (9), o JOTA inicia uma parceria com a Folha com o mesmo objetivo: analisar e explicar para os leitores as decisões e comportamentos deste Supremo Tribunal Federal, hoje bastante conhecido, mas ainda envolto em incompreensões.

    Baleeiro descreveu um Supremo bastante distinto do que é hoje. A Constituição de 1967 estabelecia atribuições bastante tímidas se comparadas às competências dadas pela Constituição de 1988. As sessões do tribunal não eram transmitidas pela TV Justiça. Nem o áudio dos julgamentos podia ser gravado ou transmitido pelos jornalistas. Não havia na Corte comitê de imprensa para facilitar o trabalho dos repórteres. Até porque os jornais se concentravam na cobertura do Executivo e do Legislativo. O Supremo só era notícia quando um caso polêmico era levado a julgamento.

    No cenário político, a inserção do tribunal também era distinta. O STF ainda não havia conhecido plenamente o equilíbrio entre os Poderes e o protagonismo que assumiria décadas depois. Diante de um Executivo hipertrofiado e do Legislativo como verdadeira arena dos embates políticos e sociais da época, o Supremo era lateral.

    Naquela década de 60, o tribunal havia apoiado o golpe militar, com seu presidente Ribeiro da Costa fazendo manifestações públicas em favor da derrubada do presidente João Goulart. Em 1965, foi empacotado pelo Ato Institucional 2, que ampliou o número de ministros para diluir os poderes daqueles juízes que foram indicados por governos anteriores. Baleeiro foi um dos que entrou no STF por esta porta. Em dezembro de 1968, o governo militar atingiria o tribunal com o AI-5, cassando três de seus ministros e levando dois a se aposentarem —para não serem também cassados, conforme os colegas registraram na época e como indicam registros oficiais. Um período conturbado, que será abordado num livro que a Companhia das Letras publicará em breve.

    O Supremo hoje não é coadjuvante. A Lava Jato, a judicialização da política e das grandes questões sociais expuseram o STF à sociedade. A TV Justiça transmite os julgamentos, os diferentes argumentos e as controvérsias internas. Mas a cada decisão polêmica, a cada disputa mediada pelo Supremo, a cada declaração pública de um ministro, a cada flerte ou incursão do tribunal no mundo da política, os cidadãos telespectadores se questionam: isso pode? O que isso significa? Essa decisão é política? É técnica? Pode um ministro antecipar suas opiniões dessa forma? Quem são esses 11? De onde eles vêm? O que pensam?

    Não são poucas as tentativas de responder a essas perguntas. Nas universidades, multiplicam-se as pesquisas sobre Supremo, controle de constitucionalidade, ativismo judicial e tantos outros temas relacionados ao tribunal. Os jornais reservam cada vez mais espaço nas suas páginas para as decisões do STF. Emissoras de rádio e TV popularizam o debate sobre a Corte. O JOTA é fruto desta tendência irreversível. Nos textos que publicamos e nos artigos que levamos aos nossos leitores, a preocupação é sempre responder àquelas perguntas cada vez mais frequentes.

    Exemplo deste esforço cotidiano foi publicado na semana passada. Em dois volumes, JOTA e o Supra, projeto que reúne diversos pesquisadores e liderado pela FGV Direito Rio, analisam os principais julgamentos e comportamentos do Supremo nos anos de 2015 e 2016. Os dois volumes podem ser baixados gratuitamente aqui.

    A partir de hoje, o JOTA, nesta parceria com a Folha, contribuirá para que o "halo de mistério" que velava "o Supremo aos olhos da opinião nacional" há 50 anos, como diagnosticou Baleeiro, seja substituído pelo olhar crítico e cada vez mais bem informado dos nossos leitores.

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