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    Juca Kfouri - Rafael Reis

    'Como nunca!'

    DE SÃO PAULO

    23/10/2014 02h00

    7 a 1, 7 a 1, 7 a 1!

    O placar ecoa, este sim, como jamais na história do futebol pentacampeão mundial.

    Como se fosse apenas o marcador de um início arrasador num set de vôlei, recuperável. Ou de um jogo de basquete, insignificante.

    Não como placar final de uma partida de futsal, igualmente vexaminoso, mas mais comum.

    Só que foi, e ninguém esquece, na semifinal da Copa do Mundo, o evento mais assistido pelo planeta Terra, quando os anfitriões foram atropelados pelos alemães.

    Ah, sim, para você que está chegando de Marte: os anfitriões éramos nós, os brasileiros.

    Nós, os brasileiros, vencedores das Copas do Mundo de 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002.

    Nós, os brasileiros, mais que respeitados ou temidos, admirados pela qualidade de nosso jogo.

    Não faz ainda quatro meses e daqui a 40 anos o vexame seguirá lembrado. Menos, é claro, por muitos de nós que já não estaremos por aqui.

    Ou por aqueles que, por cinismo ou amnésia, até já são capazes de dizer, como disse na segunda o cartolão José Maria Marin, que "o futebol brasileiro voltou a ser respeitado em todo mundo, mais do que nunca".

    "Mais do que nunca", ele disse, avaliando os quatro resultados da seleção brasileira sob o comando de Dunga, aí incluído o do amistoso contra a Argentina.

    Aqui foi dito, no último domingo, que podemos sim festejar vitórias do escrete. Não se imaginava, porém, que alguém fosse além do festejo para cunhar frase tão estapafúrdia.

    Que não se cometa a injustiça de atribuir o desvario à idade avançada do autor. O jornalista Barbosa Lima Sobrinho morreu aos 103 anos, 21 anos a mais do que Marin tem hoje, e nem por isso cometeu barbaridade semelhante.

    Repita-se que Marin parece confundir o técnico alemão Joachim Löw, que comandou os germânicos no Mineirão, com o psiquiatra bávaro Aloysius Alzheimer, porque só mesmo com a falência total das células nervosas alguém se esquecerá do 7 a 1.

    A comparação, admita-se, é brincadeira de gosto duvidoso, mas diretamente proporcional à gozação (sim, só pode ser gozação) do cartola.

    Piada péssima e burra porque apenas remete ao 7 a 1, impõe que se volte a falar do dia 8 de julho.

    O inferno de Marin é eterno, indelével, porque nem que a recuperação venha adiante não será mais com a Casa Bandida do Futebol sob seu comando.

    Seria melhor que ele permanecesse calado. Para ele e, sobretudo, para todos nós.

    SIMBOLISMO TRÁGICO

    Nomes, muitas vezes, são nomes, nada mais do que nomes. A onomástica, contudo, com frequência, oferece pistas para identificar significados que passariam despercebidos não fossem acontecimentos trágicos.

    Como o da morte do palmeirense atropelado por um santista na via Anchieta.

    O jovem morto se chamava Leonardo da Mata Santos. O dono do carro que o atropelou se chama André Maceno Apocalypse.

    Mata Santos e Apocalypse.

    Faz sentido até quando não faz nenhum sentido.

    juca kfouri

    Tem mais de 40 anos de profissão. É formado em ciências sociais pela USP. Escreve às segundas, quintas e domingos.

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