• Colunistas

    Thursday, 02-May-2024 12:36:52 -03
    Juca Kfouri

    Professores laranjas

    11/12/2014 02h00

    A Holanda foi vice-campeã mundial na África do Sul, em 2010, e quatro anos depois, no Brasil, ficou em terceiro lugar.

    Em ambas as Copas ganhou da seleção brasileira, por 2 a 1 e 3 a 0 respectivamente, no Nelson Mandela Bay, nas quartas de final, e no Mané Garrincha, na disputa pelo bronze.

    Tanto lá quanto cá, os brasileiros sucumbiram diante das seleções laranjas, como já haviam sucumbido na Alemanha, em 1974.

    Aqui, a Holanda caiu apenas nos pênaltis contra os argentinos, assim como caíra do mesmo modo, em 1998, contra o Brasil.

    A única vez em que a seleção brasileira venceu a holandesa numa Copa, no tempo normal, foi nos Estados Unidos, em 1994, por 3 a 2, fruto de uma falta cavada e cobrada com perfeição por Branco.

    Na Copa brasileira, a Holanda estreou impondo a maior surpresa do torneio até os 7 a 1, quando, na revanche da final da Copa anterior, goleou os campeões mundiais espanhóis por 5 a 1, na Fonte Nova.

    Pois este futebol holandês, tri vice-campeão mundial (1974, 1978 e 2010), está preocupado com seu futuro a tal ponto que fará, no próximo dia 15, um seminário com seus sábios para pensar sobre como será possível melhorar.

    Frank de Boer e Dennis Bergkamp, ex-craques e hoje técnico e auxiliar técnico do Ajax, Clarence Seedorf, Guus Hiddink, atual treinador da seleção, e o papa Johan Cruyff, estarão no conclave, não para discutir como ganhar do Brasil, porque já sabem de cor e salteado, mas como parar de bater na trave e ganhar uma Copa, coisa que o Brasil já soube, cinco vezes.

    Mas soube mesmo? Ou ganhou cinco Copas sem saber como, porque com Didi, Mané Garrincha, Pelé, Tostão, Rivellino, Gérson, Romário, Ronaldos, Rivaldo, os talentos eram tais que por mais que a cartolagem atrapalhasse eles davam um jeito de vencer, fosse a alardeada tecnologia soviética, em 1958, ou os inventores ingleses, em 1962 e 1970, fosse o catenaccio italiano, em 1970 e 1994, ou a disciplina germânica, em 2002.

    Porque agora, há três Copas sem vermos a cor da bola na hora da decisão, nada se faz por aqui parecido com o que se fez na Alemanha a partir de 2002, quando sua seleção perdeu apenas na final e só por 2 a 0, ou se fará na Holanda.

    Ao contrário, o que se ouve é o secretário executivo do Ministério do Esporte, Luis Fernandes, fã de Eurico Miranda a ponto de ir presidir o Conselho Deliberativo do Vasco, dizer que não se construíram elefantes brancos para a Copa porque somos "a nação do futebol" –embora a média de público do Brasileirão, de 16 mil pagantes por jogo, tenha deixado ociosos 60% dos espaços dos estádios.

    Ou, então, se vê Pedro Trengrouse, o jovem, bem preparado e ambíguo advogado que tem como paradigma o velho Caixa D'Água –aquele que infelicitou o futebol carioca por mais de duas décadas– tentar fazer de Harvard a meca das soluções de nossos problemas, embora seja, no caso, apenas um esforço marqueteiro.

    Vamos mal.

    juca kfouri

    Tem mais de 40 anos de profissão. É formado em ciências sociais pela USP. Escreve às segundas, quintas e domingos.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024