• Colunistas

    Thursday, 02-May-2024 22:38:47 -03
    Juca Kfouri

    Mais uma CPI do futebol

    13/08/2015 02h00

    Quinze anos anos atrás houve duas CPIs do futebol.

    Uma na Câmara dos Deputados, chamada de CPI da CBF/Nike, sabotada pela bancada da bola e sem votação do relatório final.

    A outra, no Senado, chegou ao fim, absorveu boa parte do investigado pela Câmara, indiciou Ricardo Teixeira mais de uma dezena de vezes, além de outros cartolas, e acabou por ter o mérito de, ao bater recordes de audiência na TV Senado, mostrar à opinião pública que a corrupção no futebol brasileiro não era fruto da cabeça de alguns poucos jornalistas.

    Eis que estamos outra vez diante de uma CPI para investigar a cartolagem, agora proposta e presidida pelo senador Romário Faria (PSB-RJ).

    Embora tenha motivos de sobra para estar por aqui com jornalistas, depois de ter sido vítima de uma barriga colossal da revista "Veja", o senador convidou quatro deles para abrir os trabalhos da CPI, entre os quais este que vos fala.

    Na CPI de 2000, também foram ouvidos jornalistas, este incluído, até em sessão secreta, pois havia investigações jornalísticas em andamento que ainda careciam de provas.

    Desta vez, graças ao FBI e ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal, tudo está muito claro.

    Resta aos jornalistas o papel de contextualizar um quadro por demais conhecido e que tem a ver com a superestrutura de poder do esporte nacional, corrupta e corruptora, avessa às mudanças que todos estão carecas de saber quais devam ser.

    Entre os membros da atual CPI há quem era deputado da bancada da bola 15 anos atrás, como Ciro Nogueira (PP-PI), e há até o ex-presidente do Cruzeiro Zezé Perrela (PDT-MG). Álvaro Dias (PSDB-PR), que presidiu com rigor no Senado a CPI de 2000, abriu mão de sua participação, para estar na CPI do BNDES, desfalque considerável para quem queira uma investigação que vá além do que já se sabe.

    Romário jamais negou sua amizade com Eurico Miranda, um dos responsáveis por melar a CPI da CBF/Nike, deputado que era na ocasião.

    Nem sua admiração por Fernando Sarney, um dos vice-presidentes da CBF e com extensa folha de denúncias contra si, embora fora do futebol. Para fazer do filho de José Sarney eventual substituto de Marco Polo Del Nero –caso este tenha de renunciar ao cargo de presidente da CBF devido às investigações do FBI e, agora, da CPI–, tentou-se mudar o estatuto da entidade, sem sucesso.

    Em bom português: num quadro diferente do que se vivia uma década e meia atrás, esta CPI terá de provar a si mesma, e à torcida, que não será só mais uma a acabar em pizza.

    No começo do século houve avanços importantes que foram estancados por uma Justiça cheia de truques, chicanas e sob influências que hoje estão enfraquecidas, pois figuras como Teixeira e José Maria Marin estão desmoralizadas.

    Se a CPI for para valer não se limitará ao pescoço de Nero ou a chutar cachorros mortos.

    juca kfouri

    Tem mais de 40 anos de profissão. É formado em ciências sociais pela USP. Escreve às segundas, quintas e domingos.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024