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    Juca Kfouri

    Dói pensar no alegre Gabriel Jesus na cinzenta Manchester

    20/08/2017 02h00

    Xinhua
    (170205) -- MANCHESTER, febrero 5, 2017 (Xinhua) -- El jugador Gabriel Jesús, de Manchester City, festeja su anotación durante el partido de la Liga Premier inglesa, ante Swansea City, celebrado en el estadio Etihad en Manchester, Reino Unido, el 5 de febrero de 2017. (Xinhua/Imago/ZUMAPRESS) (ma) (fnc) ***DERECHOS DE USO UNICAMENTE PARA NORTE Y SUDAMERICA***
    Revelado no Palmeiras, Gabriel Jesus agora é jogador do Manchester City

    O saudosismo não me pega.

    Embora tenha visto o que de melhor já aconteceu no futebol, sigo me divertindo igual ao ver o futebol de hoje em dia.

    Não tem mais Mané Garrincha, nem o Rei Pelé, é fato.

    Johan Cruijff morreu e Diego Maradona parou, como Tostão, como Paulo Roberto Falcão, como os Ronaldos e o Baixinho Romário, para não falar de Franz Beckembauer, de Franco Baresi, de Roberto Rivellino, Didi,
    Gérson, Pagão e Canhoteiro, estes dois últimos também como homenagem a Chico Buarque de Hollanda que está aí, como já estiveram Heitor Villa-Lobos e Antonio Carlos Jobim.

    Porque tem Lionel Messi, como tem Cristiano Ronaldo, Neymar, Iniesta, mesmo no fim, ou Asensio, no começo, garantias de diversão, de emoção, de comoção.

    Ainda tem Luan, Gabriel Jesus, talvez venha a ter Pedrinho, Vinícius Júnior, e é aí que a ausência de saudosismo vira temor do futuro que não nos pertence, porque o dinheiro que vem de fora ganha fácil da mediocridade que vem de dentro.

    Um dia contei aqui sobre a síndrome do torcedor ou do jornalista paraguaio.

    Ainda criança tinha pena dos jovens paraguaios que não podiam desfrutar das noites de Santos do Pelé contra o Botafogo de Mané.

    Dava graças por ter nascido no Brasil, campeão mundial em 1958.

    Adolescente, a toada prosseguiu.

    Podia ver o Cruzeiro de Tostão e Dirceu Lopes, o Palmeiras de Djalma Santos e Ademir da Guia, o Botafogo de Jairzinho e Gérson, e ainda o Santos de Pelé e companhia.

    Já jornalista também, com os acréscimos do Inter de Falcão e Carpegiani, do Flamengo de Zico, do Corinthians de Sócrates, do Grêmio de Renato Gaúcho, do Galo de Reinaldo e Cerezo, do São Paulo de Telê Santana e Raí, o Vasco de Romário e o Fluminense de Rivellino.

    Ou as seleções de 1970 e 1982!

    Tinha pena dos colegas paraguaios, colombianos, chilenos e não tinha inveja dos italianos, ingleses, espanhóis ou alemães.

    Hoje, com frequência, tenho pena de mim mesmo, me sinto venezuelano, morro de inveja dos franceses.

    Menos mal que diferentemente de quando era criança posso acompanhar tudo até no telefone. Só que não é igual.

    Vejo um Guilherme Arana nascer e tenho certeza de que, de perto, não vou vê-lo crescer, quem sabe se tornar um Nilton Santos, um Roberto Carlos.

    Dói pensar no alegre Gabriel Jesus na cinzenta Manchester.

    Saber que Luan já vai, como Vinícius Júnior.

    Dói torcer para que Pedrinho não seja isso tudo e fique, pelo menos mais um pouco, porque Philippe Coutinho foi tão cedo.

    O Brasil não merece o Brasil.

    E por maior que seja a vontade de adentrar o pantanoso campo da política, não, desta vez a deixarei de fora.

    É claro que sinto saudades dos tempos de criança, de adolescente ou do começo da vida adulta.

    Adorava a bola de capotão e a chanca, mas sigo adorando as redondas plastificadas e as chuteiras assapatilhadas.

    Gostava mais do velho Maracanã, mas não desgosto inteiramente do novo, assim como lamento o abandono do Pacaembu e sou capaz de curtir a Arena Corinthians.

    Ter saudades de ontem faz parte.

    O que apavora é pensar em não tê-las do amanhã.

    O Brasil precisa retomar o Brasil.

    juca kfouri

    Tem mais de 40 anos de profissão. É formado em ciências sociais pela USP. Escreve às segundas, quintas e domingos.

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