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    Julianna Sofia

    Uma conta maior

    23/01/2017 02h00

    BRASÍLIA - O diagnóstico do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Ayres Britto sobre a babel nos presídios brasileiros é cristalino.

    O governo não se antecipou à situação de caos nas cadeias. Tinha obrigação de prever o que estaria por ocorrer –muito embora sejam inimagináveis as cenas de batalha campal entre facções criminosas nas dunas do presídio de Alcaçuz, no Rio Grande do Norte.

    A consequência disso é que agora o Palácio do Planalto, acuado e errático, corre atrás do prejuízo. São mais de 130 mortes de presos em 20 dias. Para o ex-ministro, o governo está tateando o problema e Alexandre de Moraes (Justiça) tem uma "visão monocular" da questão.

    Num ataque sincericida, Raul Jungmann (Defesa) deixou evidente que saber, o governo de Michel Temer sabia. No meio do ano passado, na Olimpíada do Rio, já havia informação de que o grau de tensão entre os grupos criminosos aumentava e que a intervenção das forças militares seria necessária.

    As declarações causaram desconforto entre os dois ministros de Temer. Moraes, para quem a imprensa superestima o poderio das facções, calou-se.

    Sob questionamentos, as Forças Armadas foram escaladas para fazer varreduras nas cadeias estaduais. Em novo espasmo, Jungmann disse que a medida contribui, mas não resolve o problema.

    Especula-se que o uso de militares para conter a crise carcerária não tenha sido comemorado na caserna. Temem que o expediente vire rotina.

    A atuação nos presídios, no entanto, servirá para que eles ganhem mais a simpatia popular na negociação da reforma previdenciária, da qual foram excluídos por ora. Terão "uma conta maior" a apresentar ao Planalto quando forem chamados ao sacrifício, avaliam generais.

    Como se não fosse suficientemente grande para o país a conta bilionária e histórica do regime de Previdência deficitário da categoria.

    julianna sofia

    É secretária de Redação da sucursal da Folha em Brasília. Atuou como repórter na cobertura de temas econômicos. Escreve aos sábados.

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