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    Julia Sweig

    Reconciliação com a Venezuela?

    13/03/2013 03h00

    Hipótese: a reviravolta política pós-Chávez na Venezuela pode abrir a porta para pelo menos um realinhamento modesto na diplomacia regional e até mesmo uma chance de diálogo produtivo entre Washington e Caracas.

    Os indícios de potencial para uma mudança de tom na região surgiram na semana passada, com sinais enviados por Lula e Dilma. Tanto o artigo de opinião de Lula no "New York Times" quanto seu memorial postado no YouTube gentilmente, mas com clareza, fizeram um elogio ao presidente Chávez e explicitaram as diferenças de Lula com o estilo e as políticas do venezuelano.

    Dilma evitou uma enxurrada desnecessária de críticas internas, abstendo-se de comparecer ao funeral e de ter contato com Ahmadinejad.

    Esperemos que as mensagens brasileiras transmitidas publicamente e, presume-se, em caráter privado sobre a necessidade de maior transparência e prestação de contas democrática encontrem eco junto ao herdeiro provável Nicolás Maduro e à oposição. Além disso, os interesses comerciais do Brasil na Venezuela e seu papel de liderança na inclusão venezuelana no Mercosul lhe conferem influência palpável.

    O mesmo não pode ser dito de Washington. É verdade que a Venezuela depende dos EUA para comprar 40% de seu petróleo. E os laços comerciais não petrolíferos aumentaram muitíssimo nos últimos dez anos. Mas quase todos os outros aspectos do relacionamento bilateral se atrofiaram.

    EUA e Venezuela há anos não mantêm embaixadores e se acostumaram com essa situação. A política doméstica venezuelana por enquanto não favorece um engajamento mais robusto. E os EUA se acostumaram à paz fria e a um ocasional entrevero retórico.

    Mesmo assim, quando a poeira baixar após a eleição de abril, minha aposta é que os contatos serão retomados. Com que finalidade? Em vista dos erros passados de ambas as partes, é difícil visualizar como Maduro pode concordar com os termos de Washington para uma cooperação em contraterrorismo e contra o narcotráfico. Chávez rompeu com os EUA nessas duas questões.

    O discurso do próprio Maduro, como chanceler, reprovou fortemente a estratégia de segurança nacional de Washington. Bogotá e Brasília desenvolveram com Washington laços produtivos, mas que não prejudicam sua soberania. Talvez possam apontar o caminho a seguir à relutante Caracas, onde os EUA ainda são lembrados por terem endossado vigorosamente o golpe de 2002.

    Mas os laços entre instituições americanas e venezuelanas estão tão tensos que a cooperação vai exigir uma relação política mais saudável, algo em que nenhum dos lados parece estar interessado hoje.

    Washington parece estar resignada a uma nova normalidade em partes da América Latina, em que os interesses comerciais crescem e a diplomacia encolhe. E parece que, como Chávez, Maduro vai se contentar com o status quo e se beneficiar politicamente dele. Nesse contexto, que incentivos existem para uma reaproximação?

    JULIA SWEIG dirige os programas América Latina e Brasil do Council on Foreign Relations.

    Tradução de CLARA ALLAIN

    julia sweig

    Escreveu até maio de 2015

    É pesquisadora-sênior na Lyndon B. Johnson School of Public Affairs, da Universidade do Texas, em Austin (EUA).

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