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    Julia Sweig

    Por uma aproximação Brasil-EUA

    22/05/2013 03h00

    O vice-presidente americano, Joe Biden, fará visitas ao Brasil, à Colômbia e a Trinidad e Tobago na próxima semana.

    Não pense que Biden tenha um papel meramente cerimonial: ele cuida de pautas domésticas importantes como imigração, armas e Orçamento. Essas visitas também não são para angariar patrocínio ou apoio a empreendimentos americanos no exterior.

    Ao que tudo indica, o governo Obama decidiu tentar aproveitar enormes oportunidades, até agora em grande parte perdidas, nas áreas de emprego, energia e prosperidade na América Latina.

    E por que agora? A reforma da imigração, que é a prioridade legislativa do presidente neste ano, alertou a Casa Branca para o potencial benefício à política externa na América Latina.

    A disposição da Casa Branca e do público americano em lidar com questões domésticas tabus, como imigração, armas, energia, legalização da maconha e talvez até Cuba, abre as portas para uma potencial convergência com a América Latina e para a derrubada de frequentes barreiras ideológicas que muitas vezes esgotam a paciência e o ânimo diplomáticos.

    Biden chegará ao Brasil cinco meses antes da visita de Estado da presidente Dilma Rousseff aos Estados Unidos e dez anos após George W. Bush e Luiz Inácio Lula da Silva terem reunido seus gabinetes para discutir o potencial estratégico das duas democracias e suas economias. Desde então, houve dezenas, se não centenas, de reuniões ministeriais ou subministeriais, além de diálogos, iniciativas e intercâmbios governamentais nas áreas de defesa, negócios, ciência e educação.

    Ainda assim, falta algo entre as duas potências --algo que podemos chamar de ausência de ambição.

    Então deixe-me ressuscitar duas boas ideias que os vices Biden e Michel Temer e os presidentes Obama e Dilma talvez finalmente abracem.

    A primeira será mais difícil para Brasília. Tanto o Brasil quanto os EUA precisam de empregos para a classe média, de crescimento econômico e de uma estratégia em relação à China. O benefício de uma cooperação econômica que vá além de investimentos e tratados de bitributação é claro: é hora de um comércio (mais) livre, sem esperar que Roberto Azevêdo e a OMC o façam.

    Talvez seja politicamente incorreto pensar tão grande, mas o Brasil tem proteções sociais suficientes para se tornar mais aberto.

    A segunda ideia será mais difícil para Washington. Na semana que vem ou em outubro, chegará a hora de deixar de lado as advertências verbais e inequivocamente apoiar o Brasil (assim como a Índia) para que o país consiga um assento no Conselho de Segurança da ONU.

    O Brasil é um país pacifista, não nuclear, democrático e expressa o ponto de vista amplamente aceito de que respostas militares a ameaças de segurança --vide a Síria, o Irã e o Iraque-- não precisam se tornar padrão universal.

    As duas ideias requerem superação das crenças das respectivas classes burocráticas e políticas, mas podem abrir as portas a um potencial perene e até agora inexplorado. Quem sabe a visita de Biden construa o palco.

    julia sweig

    Escreveu até maio de 2015

    É pesquisadora-sênior na Lyndon B. Johnson School of Public Affairs, da Universidade do Texas, em Austin (EUA).

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