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    Julia Sweig

    A ameaça do Tea Party

    23/10/2013 03h10

    Destruir a confiança do público no governo é há muito tempo a estratégia do Tea Party e dos republicanos conservadores. Rachado por facções internas, o partido teve êxito pelo menos sob uma medida: a aprovação pública do Congresso dos EUA está em apenas 12%, o nível mais baixo em 25 anos.

    Mas a estratégia republicana de terra arrasada pode acabar queimando suas próprias casas. Segundo o "Washington Post", quando a paralisação do governo chegou ao fim, 77% dos americanos desaprovavam a estratégia republicana. E uma maioria considerável dentro do partido se opõe ao próprio Tea Party.

    O "New York Times" decompõe os republicanos em seis facções, desde uma estirpe moribunda de moderados que fizeram objeção à paralisação, até membros do Tea Party, filiados ao Tea Party e moderados que apoiaram a paralisação para impedir a reforma da saúde de Obama.

    Estrategistas dos dois partidos começam a indagar se o Partido Republicano vai ter que superar essas divisões internas para poder conservar sua maioria na Câmara em 2014.

    A prioridade legislativa de Obama --a reforma da imigração-- pode exacerbar ainda mais os conflitos faccionais dos republicanos ao forçar, se não uma votação, pelo menos uma expressão pública de apoio ou de repúdio às políticas de imigração mais humanas que têm a aprovação da maioria dos eleitores americanos, além dos novos eleitores latinos.

    É possível visualizar um cenário em 2014 no qual o domínio republicano sobre 30 ou 40 cadeiras "seguras", garantidas principalmente por eleitores brancos, desabe diante do repúdio ao Tea Party e ao fato de a liderança na Câmara não ter conseguido prevalecer durante a paralisação. Poderão então os democratas chegar à eleição presidencial de 2016 controlando a Câmara, o Senado e a Casa Branca?

    Em 1787, James Madison, um dos autores da Declaração dos Direitos dos Cidadãos e que viria a se tornar presidente, escreveu no "Federalist Papers" que facções minoritárias numa democracia, especialmente em uma república pequena, podem converter-se em expressões potencialmente nocivas de interesses sociais e econômicos divergentes. Apenas ao "estender a esfera", ou ampliar a república, é que a nova democracia poderia absorver esse dano.

    Como secretário de Estado de Jefferson, Madison negociou a compra do Louisiana, que dobrou o tamanho dos EUA. A doutrina Monroe, as guerras com o México e a Espanha, o Destino Manifesto ou as intervenções caribenhas de Woodrow Wilson refletiram, literal ou presuntivamente, a lógica de Madison de estender a esfera.

    Após a guerra civil americana, o conflito faccional se abrandou e a luta pelo voto e outros direitos, embora nem sempre pacífica, estendeu os direitos políticos a americanos antes privados do direito de votar.

    As guerras dos EUA no século 21 sangraram o tesouro, mas não produziram paz doméstica. Quem sabe a ferida autoinfligida do Tea Party, e não as guerras no exterior, coloque um ponto final neste capítulo do conflito faccional americano.

    @JuliaSweig

    Tradução de CLARA ALLAIN

    julia sweig

    Escreveu até maio de 2015

    É pesquisadora-sênior na Lyndon B. Johnson School of Public Affairs, da Universidade do Texas, em Austin (EUA).

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