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    Julia Sweig

    Concorrência em Cuba

    29/01/2014 03h05

    Em viagem a Cuba há duas semanas, o grande assunto em voga era a cúpula da Celac desta semana e, mais especificamente, o Brasil. A presidente Dilma agora inaugurou o porto de Mariel, um investimento de US$ 1 bilhão capitaneado pela Odebrecht e com apoio do BNDES.

    O capital brasileiro está investido em Cuba para o longo prazo também em cana, soja, milho, tabaco e farmacêuticos. Para Brasil e Cuba, negócios são negócios, mas história compartilhada e um toque de solidariedade não fazem mal nenhum.

    Mas, enquanto Havana se preparava para receber algumas dezenas de chefes de Estado, seus cônjuges, comitivas e imprensa, ouvi também um interesse explicitamente declarado na cooperação com os EUA, entre governos, empresas e sociedades.

    Isso já está acontecendo de modo discreto, mas não com investimentos em grande escala, do tipo dos brasileiros. Não ainda, ao menos.

    Em vez disso, cubanos residentes nos EUA remetem US$ 1 bilhão por ano a famílias, que, por sua vez, o investem em novos pequenos negócios –alguns dão lucro, outros não.

    Não há proibição de viagens para cubano-americanos, e meu palpite é que o mercado imobiliário residencial recém-aberto esteja crescendo em parte graças ao capital vindo de Miami. (É apenas questão de tempo para as fronteiras desaparecerem, e o capital cubano ajuda de modo palpável a reforçar a economia do sul da Flórida.)

    Os americanos sem família na ilha ainda precisam pedir ao governo licença especial para viajar a Cuba legalmente. E o governo é inconstante quanto a dar as licenças, em parte porque a burocracia, que sempre se protege, tende a seguir o espírito político do momento: simplesmente dizer "não" a qualquer coisa que possa ajudar os Castro, mesmo que o interesse nacional americano sugira algo diferente.

    Mas mesmo essa equação está mudando agora. O presidente Obama não tem crise nuclear, guerra civil genocida ou conflito sectário que o obrigue a rever, enfim e substancialmente, a política em relação a Cuba, desgastada e embaraçosa.

    Mas tem um consenso a favor disso da parte do público, da opinião editorial, das comunidades empresarial, cultural, artística, esportiva e religiosa dos EUA. Só o que ele precisa fazer é liderar, e esse consenso se manifestará num piscar de olhos.

    Tirando a competitividade que pode ter começado a se manifestar nesta semana, quando a presença brasileira em Cuba está em destaque, um acontecimento geopolítico pode compelir Obama a finalmente marginalizar a minúscula minoria em seu partido que prefere manter congelada a política sobre Cuba.

    julia sweig

    Escreveu até maio de 2015

    É pesquisadora-sênior na Lyndon B. Johnson School of Public Affairs, da Universidade do Texas, em Austin (EUA).

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