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    Julia Sweig

    Perguntas para Dilma 2.0

    05/11/2014 02h00

    Acabamos de votar nos Estados Unidos também, nas "midterms" –as eleições para deputados e governadores promovidas dois anos depois de iniciado cada mandato presidencial. Assim, estamos um pouco distraídos aqui em Washington, porque o Partido Republicano provavelmente conseguirá o controle majoritário do Senado pela primeira vez desde 2006 e desde que Barack Obama, democrata, tomou posse, em 2009.

    Com a probabilidade de os republicanos controlarem a Câmara e o Senado, os dois últimos anos do presidente no cargo podem exigir concessões legislativas tremendas em sua agenda e mais ação executiva que em seu primeiro mandato.

    Nesse contexto, resolver ou "resetar" as relações com Dilma 2.0, ou não, e como fazê-lo, não chega a ser algo que faça manchetes.

    Não voltará a sê-lo a não ser que Dilma e Obama decidam reprogramar a visita de Estado. Assim, antes de eu sair (de novo) para comprar um vestido de gala para esse evento ou persuadir meu marido a adquirir um smoking do século 21, há sete perguntas que Susan Rice e John Kerry podem fazer ao Planalto e ao Itamaraty.

    1) Agora que os dois presidentes precisam trabalhar com Congressos mais conservadores, qual é o âmbito realista de uma agenda bilateral revista e como o Brasil vai ajudar a impulsionar essa agenda?

    2) Considerando que um tratado tributário bilateral está na agenda, mais ou menos, nos últimos dez anos, por que é mais provável que ele vire realidade agora?

    3) Agora que os EUA e o Brasil acordaram o que parece ser uma resolução definitiva sobre o algodão, e especialmente em vista das restrições do Mercosul, será que as condições estão propícias ou ainda mais propícias para um diálogo aberto sobre comércio livre ou ainda mais livre?

    4) O que exatamente se quer dizer em Brasília com o termo "acordo de espionagem"? (E, já que estamos falando nisso, depois de toda a reclamação justificada contra a NSA no ano passado, por que essa questão parece ter desaparecido do horizonte durante a eleição presidencial brasileira?)

    5) Na política externa, poderiam nos ajudar a entender o porquê do apoio do Brasil e de toda a América Latina para a Venezuela ocupar vaga rotativa no Conselho de Segurança da ONU? (Dica: essa é uma oportunidade para o Brasil esclarecer uma classe política de Washington que está genuinamente, mesmo que chocantemente, consternada.)

    6) Quando a senhora discursou na Assembleia Geral da ONU em setembro, quis sugerir que o Ocidente deve negociar com o EI?

    7) Se o presidente Obama comparecer à Cúpula das Américas no ano que vem, no Panamá, ao lado do cubano Raúl Castro, que contribuição substantiva Brasília espera fazer para a região e para o relacionamento EUA-Cuba, além do simbolismo?

    Talvez nossos presidentes deem partida num diálogo em torno dessas questões na semana que vem, na cúpula do G20. Então, quem sabe, o comboio de Dilma chegue ao número 1600, Pennsylvania Avenue, e eu possa tirar o pó dos meus sapatos de festa.

    julia sweig

    Escreveu até maio de 2015

    É pesquisadora-sênior na Lyndon B. Johnson School of Public Affairs, da Universidade do Texas, em Austin (EUA).

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