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    Julia Sweig

    A rota de Hillary à Casa Branca

    22/04/2015 02h00

    Esta não será minha única coluna sobre a campanha presidencial de Hillary Clinton. Ela a lançou na semana passada, 19 meses antes da eleição geral. Admito: vou votar nela. Como também votará a maioria dos jornalistas americanos de nossos principais jornais e redes de televisão, os mesmos jornalistas que a seguirão na campanha, investigarão seu passado e exporão cada um de seus pontos vulneráveis.

    E vamos já deixar clara outra coisa: a cobertura da campanha e os ataques republicanos contra Hillary serão tingidos de sexismo –na linguagem, no tom, na ênfase, nas perguntas que serão feitas e nas que não o serão.

    A campanha de Hillary vai oferecer a oportunidade de ouvi-la dizer muito, mas não nos dirá muito sobre a presidente que ela seria. Reservaremos isso para quando e se ela for eleita. Eis algumas dimensões nas quais ficar de olho até lá.

    Sua emergência como democrata populista: alguns dizem que Hillary sempre tomou partido dos pobres e da classe média; para outros, é cria de Wall Street que se beneficiou de e, por associação, promoveu a desregulamentação que nos trouxe a crise financeira de 2008. Nenhum político americano pode fugir do poder e do dinheiro corporativo, mas é verdade que Hillary tem histórico de toda uma vida de defesa da saúde, participação política e oportunidades econômicas de famílias, mulheres e crianças.

    Outra dimensão: o Partido Democrata terá poucas ou nenhuma alternativas que contestem a pré-candidatura de Hillary. Isso significa que ela passará 15 meses, até as convenções partidárias do verão [no hemisfério Norte] de 2016, falando sobre ela própria com seus assessores, sua equipe de campanha e o povo americano. Soa exaustivo e um pouco entediante, não? Jornalistas e editorialistas assumirão o exame detalhado de suas propostas e a cobrança de resultados que normalmente seriam feitos por um grupo forte de rivais nas primárias.

    Sem um rival de seu próprio partido, Hillary só perderia para si mesma a corrida para as eleições gerais. Muita coisa pode dar errado na ausência de alguém a não ser a imprensa com quem debater, mas ela também vai dispor de um ano a mais para focalizar e refinar sua mensagem sobre a agenda do Partido Republicano. Ela tem mais de uma dúzia de pré-candidatos a estudar e atacar, entre eles Jeb Bush, Marco Rubio, Scott Walker e Ted Cruz. E eles a ela.

    Começando agora, Hillary terá que determinar se e como se diferenciar de Barack Obama sem repetir o erro cometido por Al Gore quando ele abandonou o legado de Bill Clinton (Dilma fez a escolha certa em relação a Lula em 2010).

    E terá que desenvolver uma narrativa que condiga com sua própria história e explique claramente o que ela vai realizar no futuro, como presidente. Os republicanos saudarão esse resultado como o fim do mundo conforme o conhecemos e converterão a disputa num referendo sobre Obama.

    Minha aposta é que esse próprio esquema da disputa conduzirá Hillary ao Salão Oval.

    julia sweig

    Escreveu até maio de 2015

    É pesquisadora-sênior na Lyndon B. Johnson School of Public Affairs, da Universidade do Texas, em Austin (EUA).

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