• Colunistas

    Tuesday, 25-Jun-2024 22:12:16 -03
    Katia Abreu

    Uma equação infalível

    30/03/2013 03h00

    No Brasil dos anos 1970, a autossuficiência na produção de alimentos ainda estava muito distante da realidade. Éramos um grande importador, e o brasileiro gastava, em média, 48% de sua renda com alimentação.

    Vivíamos constantes crises de abastecimento, importávamos grãos, carnes e leite. O café era o grande pilar da balança comercial brasileira. Manteve-se assim até a crise do petróleo, que, em 1973, derrubou seu consumo em todo o mundo, provocando um deficit de mais de US$ 1 bilhão em nossa magra balança comercial.

    Gastando muito com petróleo e com a importação de alimentos, não havia como imaginar o Brasil exportador de hoje. Perseguíamos tão somente a autossuficiência.

    Nesse contexto de crise e sob a inspiração de brasileiros visionários, surgiu a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Eliseu Alves concebeu a Embrapa, que foi fortalecida e ampliada nos anos seguintes pelo então ministro da Agricultura, Alysson Paulinelli.

    Aliou-se vontade política à inovação. Uma equação infalível, que fez reduzir o gasto médio do brasileiro com as refeições de cada dia a menos de 20% de sua renda.

    Até o surgimento da Embrapa, o Brasil praticava nos trópicos uma agricultura importada das regiões temperadas, dependente de tecnologias que não foram concebidas para as nossas condições naturais. Toda a agricultura relevante do mundo situava-se fora da região dos trópicos, na América do Norte, na Europa e na Argentina.

    Não havia, ainda, exemplo de agricultura tropical, nem se acreditava muito que isso fosse realmente possível. As próprias políticas governamentais, orientadas exclusivamente para a industrialização e a substituição de importações industriais, traziam implícito o conformismo com a inferioridade de nossa agricultura.

    Em pouco tempo, fizemos nossa revolução verde, conquistando o cerrado, e o Brasil tornou-se o terceiro produtor agrícola do mundo e o segundo em exportações.

    E não é simplificar as coisas dizer que essa nova história começou com a Embrapa. Foi essa instituição pública genuinamente brasileira que liderou a invenção de uma agricultura com identidade própria: a primeira agricultura tropical do mundo, moderna, eficiente e ambientalmente sustentável.

    Toda essa aventura no caminho do conhecimento voltado para o uso na produção foi obra de brasileiros que fecharam os ouvidos para os gritos da política e para o ceticismo dos que sempre subestimaram nossa capacidade de resolver problemas. A Embrapa provou algumas coisas, e a primeira delas é que a excelência na educação sempre dá frutos.

    Ela buscou profissionais em universidades rurais, já na época um modelo diferenciado de ensino e pesquisa, no padrão das universidades americanas. E investiu na profissionalização desses brasileiros, mostrando que nenhum país pode se desenvolver sem pesquisa e inovação próprias, patrocinadas pelo Estado.

    Por último, provou que o Brasil, quando acredita e quer, é capaz de grandes feitos. Quando vejo a Embrapa e tudo o que ela fez, é como se estivesse vendo, refletida num espelho, a imagem do Brasil que podemos ser.

    Mas o tempo passa e o mundo não para. Os saltos da ciência e as novas possibilidades tecnológicas, criadas pelos avanços no conhecimento científico, chamam a Embrapa a um novo começo.

    Estamos chegando à fronteira da tecnologia existente e precisamos ocupar um novo espaço, o da biotecnologia moderna, com as técnicas da transgenia e da nanotecnologia.

    Com tudo o que aprendeu com o seu passado, a Embrapa certamente vai saber andar no futuro. Essa é minha homenagem pelos 40 anos dessa instituição.

    Obrigada por tudo, Embrapa. Conte sempre comigo, Embrapa.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024