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    Katia Abreu

    Diálogo

    01/11/2014 02h00

    Eleição ou reeleição abrem sempre um novo ciclo na vida nacional, com mudanças a serem apresentadas e com políticas públicas acertadas sendo preservadas. Inaugura-se todo um período de reflexão e de ação, dando tempo para que as novas ideias possam ser elaboradas e realizadas. É um ritual único na vida de uma nação e assim deve ser encarado.

    O clamor das eleições, que ocupou o país nos últimos meses, deu lugar ao debate de novas propostas, e não só a acusações e denúncias. É fundamental reconhecer que a luta pelo poder eventualmente deriva para excessos que, agora, devem ser contornados. O país está acima de todos nós e dos mais diversos interesses particulares e partidários.

    Não foi outro o propósito da presidente da República, ao fazer um chamamento nacional pela união e pelo diálogo. Portou-se como estadista, agindo com princípios republicanos. Teria sido fácil acirrar os conflitos, visto que se encontrava na posição de vitoriosa. Em vez disso, optou pela conciliação e pelo desarmamento dos espíritos.

    Carece de qualquer sentido, diante desse chamamento presidencial, iniciar uma espécie de "terceiro turno", como se a eleição não tivesse terminado. Há o tempo da luta, há o tempo da paz. A paz, no entanto, não é a paz silenciosa dos cemitérios, mas a do espaço público do debate e, sobretudo, do trabalho.

    Infelizmente, o Brasil está por demais acostumado a disputas exacerbadas que, não raro, flertam com calúnias e difamações. É como se a luta pelo poder devesse resultar
    no aniquilamento do adversário, considerado como um inimigo. Há valores e princípios republicanos que se situam -e assim devem se situar- acima dos contenciosos particulares.

    A presidente da República, embora reeleita, mereceria um período de trégua, normalmente concedido a qualquer novo mandatário. Mas não foi isso que ela demandou em sua manifestação. Ao contrário, pediu apenas união.

    Coerente com sua atitude, chamou os adversários para o diálogo. Já o havia feito, quando de seu discurso de vitória, após o resultado. Como se não tivesse sido bem entendida, posteriormente, nominou diretamente Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB) e os convidou para a construção da unidade.

    Como em qualquer negociação, há pontos convergentes e divergentes. Reza a boa prática realçar e privilegiar aquilo sobre o que concordamos, abrindo caminho para o entendimento e, sobretudo, para a confiança. Os pontos divergentes serão, posteriormente, objeto de discussões e reelaborações, pois o bem público deve ser o nosso objetivo maior como políticos que somos.

    Países de tradição democrática sólida e antiga costumam agir dessa maneira, mantendo sempre um clima de distensão e de colaboração em prol de valores maiores, mesmo nos períodos mais difíceis. Propostas devem estar sempre à mão. Isso, no entanto, exige um clima de cooperação e diálogo, de união nacional.

    Dialogar será um sinal de maturidade política e abrirá sólidos caminhos para que o crescimento e o desenvolvimento do país tenham estabilidade e sustentabilidade social e econômica. O Brasil é um celeiro de quadros técnicos e éticos da maior qualidade, na situação e na oposição, que juntos podem construir soluções para os maiores problemas do país. Não é hora de isolamento. É hora de união.

    Momentos de união exigem atitude de estadista.

    O chamamento da presidente corresponde, precisamente, a essa atitude, que traduz humildade e responsabilidade para com o país. Espera-se, da oposição, uma resposta positiva a esse convite. O Brasil precisa de todos.

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