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    Katia Abreu

    União contra a crise

    20/12/2014 02h00

    Política, segundo Aristóteles, é a mais elevada atividade humana. São Tomás de Aquino a colocava apenas abaixo da atividade religiosa. Tudo é política, inclusive sua rejeição. Se ela não vai bem –e sabemos que não vai–, o remédio não está fora dela, mas nela mesma. Só a política conserta a política.

    Há, porém, variadas formas de praticá-la, sempre como instrumento de resolução pacífica de conflitos, inerentes ao convívio humano –desde a esfera privada até a pública.

    A política partidária se guia pelo legítimo ideal de exercer o poder. E a política no âmbito corporativo –patronal ou trabalhista– vocaliza as demandas de quem produz. Ambas são formas nobres de lidar com o interesse público. Exerço-as em ambas as frentes.

    A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), para cuja presidência fui reeleita e empossada no dia 15, não é entidade partidária. Mas, como tribuna das demandas do produtor rural –que são também as demandas da sociedade brasileira–, faz política, busca interlocução com o poder.

    Como senadora e presidente da CNA, tenho o dever de buscar interlocução com o governo, não importa quem esteja a exercê-lo. Como senadora, tenho um partido –o PMDB– e a ele devo lealdade, sigo suas determinações, partilho suas alianças, sem perder de vista o interesse público, que deve pairar acima de quaisquer outros –corporativos ou partidários.

    Há momentos na história de um país em que os desafios são de tal envergadura que, assumidos ou negligenciados, irão determinar o destino não de só uma, mas de sucessivas gerações.

    O Brasil vive tal momento. Há pelo menos duas décadas, galga patamares expressivos de desenvolvimento que o colocam diante de questões que não se resolvem ou se compreendem pela bitola estreita das ideologias.

    Somos hoje um país com peso internacional, que, apesar das dificuldades, está entre as dez maiores economias do planeta –e isso exige visão mais ampla da realidade.

    Precisamos, entre outras providências, de investimentos de infraestrutura, de garantias de segurança jurídica e, sobretudo, de renovação de nossa cultura política, com a superação de velhos paradigmas, que alimentam a ação predatória de grupos ideológicos, à direita e à esquerda, que desservem o interesse geral. Esses não veem a árvore e muito menos a floresta.

    O agronegócio é parte integrante do setor produtivo brasileiro. Não é um mundo à parte, mas conectado a todos os aspectos da vida do país. Sabe que só será próspero se o país prosperar. As dificuldades do Brasil são nossas dificuldades e temos que superá-las em conjunto. Não podemos pedir ao país –ou ao Estado– o que ele não pode ou não deve nos dar. Nosso êxito como sociedade é tarefa de todos.

    Por mais que sejamos conscientes de nossas necessidades, e por mais que seja legítimo lutar por elas, há momentos –e este, sem dúvida, é um deles– em que é preciso transcender esses interesses, até em benefício deles mesmos.

    O Estado é o guardião do interesse comum. Não pode ficar à mercê de uma visão única, que lhe tira a legitimidade e a capacidade de manter unida a sociedade. Meu compromisso é contribuir para que a pluralidade se exerça com harmonia, de modo a que o país retome sua rota de prosperidade.

    O Brasil tem recursos naturais e um setor rural moderno e competitivo. Temos ampla capacidade de produzir e exportar mais. O mundo, porém, está se tornando cada vez mais competitivo. Conquistamos mercados por meio da ação de agentes privados, que se aproveitaram do crescimento de emergentes e da diminuição da pobreza, sobretudo na Ásia. Mas, a partir de agora, um crescimento mais vigoroso vai depender da abertura de novos mercados e da luta contra barreiras artificiais impostas em toda a parte.

    Não nos falta disposição para o trabalho. Nós somos parte de um setor produtivo que acredita no futuro do Brasil e que, mesmo em meio às dificuldades, continua investindo.

    A CNA é uma casa política, na medida em que a política permeia todas as ações e relações da sociedade. Mas não é uma casa partidária. A disputa ideológica, legítima, necessária, se exerce nos partidos políticos. Nossa confederação é, ao mesmo tempo, a fortaleza de nossos interesses e de nossos direitos, mas é –e deve continuar sendo– uma reunião de homens e mulheres que põe a nação brasileira acima de tudo. Acreditamos que tudo que é bom para o Brasil é bom para o agro.

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