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    Kenneth Maxwell

    Boas notícias

    26/09/2013 03h00

    Há alguns projetos maravilhosamente empolgantes em curso no Brasil, um dos quais eu vi em ação na semana passada, no Festival de História de Diamantina, em Minas Gerais.

    É um caminhão com um museu móvel de história do Brasil, que reuniu os melhores acadêmicos, artistas e cineastas para produzir um verdadeiro festival da experiência cultural brasileira, dirigido à mais ampla audiência. Era evidente que estava funcionando, dadas as multidões que acompanhavam a mostra.

    O Caminhão Museu Sentimentos da Terra tem curadoria do cenógrafo carioca Gringo Cardia e coordenação de Heloísa Starling, da UFMG.

    Heloísa é assessora da Comissão da Verdade, historiadora e empresária cultural. Ela apresentou, no Festival de História de Diamantina, um notável estudo que mapeia os centros de tortura entre 1964 e 1968 nos seguintes Estados: Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Bahia e Pernambuco. O estudo mostra a escala da tortura e sua localização em instalações militares. Heloísa foi a idealizadora do projeto Caminhão Museu Sentimentos da Terra e nos guiou em nossa visita.

    O caminhão tem um pequeno teatro que mostra vídeos narrados por importantes artistas brasileiros como Chico Buarque, Gilberto Gil, Maria Bethânia (que também fez um show de música e poesia no festival), Caio Blat e Dira Paes. Vi dois deles: "Canudos", que conta a história de Antônio Conselheiro e da luta nos sertões baiano e cearense entre a comunidade de quase 24 mil moradores rurais pobres e as forças militares enviadas contra ela; e "Indígenas", que acompanha a história do destino (e da persistência) dos índios brasileiros ao longo de 500 anos, da chegada dos portugueses, em 1500, até hoje.

    Ambos são evocativos, comoventes e historicamente precisos. "Indígenas" conta como uma população de seis milhões de índios caiu a apenas 300 mil nos anos 1980, mas agora se recuperou para cerca de 800 mil. "Canudos" conta uma história de resistência e destruição. Os dois são belas produções, combinando o melhor das capacidades brasileiras de apresentação, animação e teatro. Ambos falam a uma população de todas as idades e todas as realizações educacionais. É um belo exemplo do que é possível.

    O caminhão também mostra, em painéis, as vidas de oito personalidades envolvidas em conflitos rurais, do visconde do Uruguai a Chico Mendes, permite que as pessoas se vistam em trajes rurais e tem uma seção de livros e vídeos disponíveis para os visitantes, e tudo isso convida à participação ativa. É uma bela experiência. O melhor do Brasil.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

    kenneth maxwell

    Escreveu até julho de 2015

    É historiador britânico graduado em Cambridge (Reino Unido) com doutorado em Princeton (EUA). É referência na historiografia sobre o período colonial brasileiro.

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