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    Kenneth Maxwell

    De volta ao futuro

    03/10/2013 03h00

    Algumas coisas não mudam. O governo dos EUA "fechou" à meia-noite da segunda-feira, depois que republicanos e democratas fracassaram em obter um acordo orçamentário na Câmara dos Deputados.

    Mais de 800 mil funcionários federais se viram forçados a uma licença não remunerada, e parques e locais históricos foram fechados, entre os quais a Estátua da Liberdade, em Nova York. Os republicanos na Câmara Baixa do Congresso, onde o partido detém maioria, recusaram qualquer acordo que não envolva postergar o "Obamacare", lei de reforma da saúde que é a peça central do governo Obama.

    Na Itália, outra crise política está em curso, depois que Silvio Berlusconi, recentemente condenado por fraude tributária, retirou cinco ministros (de seu partido de centro-direita) do governo de coalizão comandado pelo primeiro-ministro, Enrico Letta, de centro-esquerda. Há quem alegue que a única solução é uma nova eleição. Outros creem que um novo pleito apenas adiaria as reformas necessárias. Mas o governo de Letta sobreviveu.

    Na Alemanha, a democrata-cristã Angela Merkel, recentemente reeleita, enfrenta dificuldade para formar uma coalizão. Como parte de um acordo, ela talvez precise aceitar a criação de um salário mínimo, algo que a Alemanha, ao contrário de 21 dos 27 países da UE e de 25 dos 34 países da OCDE, entre os quais os EUA, não tem desde o final da Segunda Guerra. Mas o sucesso econômico da Alemanha é visto por muitos outros europeus como resultado do fato de que lá, especialmente no setor de serviços, os empregadores pagam só o que o mercado requer.

    No Reino Unido, o Partido Conservador, de David Cameron, prometeu, em sua reunião anual em Manchester, punir ainda mais os pobres (o que é sempre uma posição popular entre os conservadores britânicos), bem como manter as medidas de austeridade cujo objetivo é equilibrar o Orçamento (desnecessário dizer que no próximo Parlamento, quando os conservadores podem, ou não, conquistar maioria na Câmara dos Comuns).

    O que não deixa muito espaço para a atenção ao Brasil, claro. Mas isso não explica (nem justifica) por que uma jornalista brasileira foi detida pela polícia da Universidade Yale, quando estava tentando cobrir a visita de Joaquim Barbosa, presidente do STF, ao campus. Cláudia Trevisan foi detida, algemada, teve seu passaporte confiscado e passou horas em uma cela em New Haven. Joaquim Barbosa estava participando de uma conferência sobre "constitucionalismo global" em Yale.

    Quem quer que desejasse ver a "Carta de Direitos" original, nos Arquivos Nacionais, em Washington, teria encontrado as portas fechadas devido à paralisação do governo.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

    kenneth maxwell

    Escreveu até julho de 2015

    É historiador britânico graduado em Cambridge (Reino Unido) com doutorado em Princeton (EUA). É referência na historiografia sobre o período colonial brasileiro.

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