Quem disse que a época do duelo no O.K. Corral passou?

Os EUA estão correndo descontroladamente da paralisação do governo para uma moratória de sua dívida, com o presidente Obama determinado a não aceitar um compromisso e a maioria republicana na Câmara dos Deputados determinada a não negociar.

"Disfunção" é um termo ameno demais para descrever o impasse. Wall Street está preocupada. Como deveria. E o mesmo se aplica ao restante do mundo, que assiste a isso nervosamente dos bastidores, plenamente consciente das severas consequências econômicas de um fracasso da classe política norte-americana em resolver suas diferenças.

A paralisação do governo já entrou em sua segunda semana. A menos que um acordo para elevar o limite da dívida federal seja fechado antes de 17/10, o Departamento do Tesouro afirma que não poderá garantir o pagamento de todas as contas do governo e que, duas semanas mais tarde, os EUA estarão diante de uma moratória de sua dívida.

Na Câmara, John Boehner, o presidente republicano da Casa, aparentemente quer encerrar a paralisação no governo, elevar o limite da dívida antes de 17/10 e manter seu posto. Boehner, entretanto, teme violar a chamada "regra Hastert", uma referência a Dennis Hastert, antigo presidente da Câmara que dispôs que um presidente da Casa jamais deveria levar ao plenário para aprovação um projeto de lei que não contasse com o apoio da maioria dos deputados de seu partido. O sistema se tornou conhecido como "regra da maioria da maioria".

O que, evidentemente, confere aos membros do movimento Tea Party na bancada republicana do Congresso o poder de veto. O Tea Party se opõe veementemente a qualquer acordo com Obama. Quer bloquear o custeio do "Obamacare", a reforma da saúde profundamente impopular entre os conservadores, hoje mais hostis ao governo e mais teimosamente conservadores do que nunca. Eles veem qualquer compromisso como capitulação diante de um presidente que desprezam.

A mais recente pesquisa de opinião "Washington Post"/ABC News mostra que 70% dos norte-americanos desaprovam os legisladores republicanos e apenas metade dos republicanos aprovam o que seus congressistas estão fazendo. Mas 61% dos democratas também desaprovam os democratas no Congresso. E 51% dos pesquisados desaprovam o presidente Obama.

Virgil e Wyatt Earp, bem como Doc Holliday, saíram vitoriosos do tiroteio no O.K. Corral, em Tombstone, território do Arizona, em outubro de 1881. Obama e Boehner podem não ter a mesma sorte em outubro de 2013. Correm o risco de fuzilamento mútuo.

Tradução de PAULO MIGLIACCI