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    Kenneth Maxwell

    Populismo revivido

    17/10/2013 03h00

    Na França e na Inglaterra, nacionalistas, populistas e militantes céticos quanto à União Europeia estão causando abalos nas elites políticas. Enquanto isso, os nacionalistas catalães, na Espanha, e os nacionalistas escoceses, no Reino Unido, contestam a estrutura que define seu status nacional.

    Na França e na Inglaterra, os desafiantes apelam a um público desencantado com os políticos nacionais. Exploram a raiva quanto ao desemprego e a imigração, bem como a preocupação sobre a lei e a ordem.

    Na França, a Frente Nacional (FN), de Marine Le Pen, conquistou espantosa vitória na pequena cidade de Brignoles, no domingo, onde o candidato do partido, Laurent Lopez, ex-boxeador, mas elegantemente trajado em terno e gravata, conquistou 54% dos votos num distrito há muito dominado pelo Partido Comunista Francês.

    Ainda que a FN tenha só duas cadeiras na Assembleia Nacional, Marine Le Pen reformulou a agremiação, deixou de lado o antissemitismo e desintoxicou o partido raivoso criado por seu pai, Jean-Marie Le Pen. Ela parece destinada a obter bom desempenho nas eleições municipais de março e nas eleições europeias de maio, para as quais as pesquisas mostram a FN na liderança com 24% dos votos potenciais. O sucesso dela vem causando pânico aos políticos centristas de Paris.

    Na Inglaterra, o Partido da Independência do Reino Unido (Ukip), de Nigel Farage, representa igual desafio para as forças estabelecidas. Os líderes do Partido Conservador contemplam com ansiedade o sucesso do Ukip nas eleições locais e se preocupam com a eleição para o Parlamento Europeu, na qual o Ukip pode se sair muito bem, de acordo com pesquisas de opinião pública.

    O partido de Farage também atrai as pessoas desencantadas com os partidos políticos convencionais. O Ukip não tem representação no Parlamento nacional, mas conta com forte apoio de base.

    Na Catalunha e na Escócia, os desafiantes têm base mais ampla. Os nacionalistas catalães têm forte base histórica e cultural para seu separatismo.

    Os nacionalistas escoceses já controlam o governo da Escócia. Estão se preparando para o referendo de 2014, sobre o futuro do relacionamento entre a Escócia e o restante do Reino Unido, em uma votação sobre a independência escocesa, que pode pôr fim ao Reino Unido na forma pela qual é conhecido há mais de 400 anos.

    Marine Le Pen define o problema como um conflito entre "nacionalismo e globalização". Mas, em um momento no qual a Europa busca maior integração fiscal e econômica, muitos de seus principais países enfrentam crescente ameaça de fragmentação interna.

    O Brasil, com sua geografia continental e a despeito de seus problemas, ao menos não enfrenta esse tipo de desafio.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

    kenneth maxwell

    Escreveu até julho de 2015

    É historiador britânico graduado em Cambridge (Reino Unido) com doutorado em Princeton (EUA). É referência na historiografia sobre o período colonial brasileiro.

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