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    Kenneth Maxwell

    Pantera negra

    09/01/2014 03h00

    No domingo, Eusébio, o grande ídolo do futebol português, morreu de um ataque cardíaco em Lisboa, aos 71 anos. Ele nasceu em Lourenço Marques, então capital da colônia portuguesa de Moçambique. Depois da independência do país, o nome da cidade mudou para Maputo. Eusébio era conhecido como "pérola negra" e como "pantera negra". Já outros o chamavam de "o rei". Foi incluído por um painel de 100 especialistas da Fifa, em 1998, na lista dos dez maiores jogadores de futebol de todos os tempos. Alguns dos votantes o colocaram na terceira posição no ranking, atrás de Pelé e Maradona.

    O pai de Eusébio da Silva Ferreira era um ferroviário angolano branco, e sua mãe era de Moçambique. Ele foi recrutado pelo time lisboeta Benfica para grande irritação do Sporting, o maior rival do Benfica na capital portuguesa. Eusébio defendeu o Benfica durante todos os seus 15 anos de carreira futebolística em Portugal. O ditador português António de Oliveira Salazar interferiu quando a Inter de Milão tentou contratá-lo, impedindo Eusébio de aceitar. Salazar declarou que ele era um patrimônio de Portugal.

    Há quem afirme que o jogador foi usado pela ditadura. Mas Eusébio sempre evitou a política. Era acima de tudo um jogador de futebol. Joaquim Chissano, ex-presidente moçambicano que conhecia Eusébio desde a infância, declarou, ao ser informado da morte do jogador, que havia "perdido um amigo". E acrescentou: "Todos em Moçambique têm orgulho de Eusébio".

    A fama de Eusébio surgiu nos anos 60. Em 1962, o Benfica derrotou o poderoso Real Madrid por cinco a três em Amsterdã, com dois gols de Eusébio. Na Copa de 1966, Eusébio ficou com o prêmio de melhor jogador. Portugal derrotou o Brasil, mas foi eliminado na semifinal pela Inglaterra. Eusébio encerrou a carreira com 679 gols em 678 partidas oficiais. Sua maior tristeza era nunca ter vencido uma Copa.

    Cristiano Ronaldo, o formidável atacante português que muitos veem como digno sucessor de Eusébio, marcou seu 400º gol nesta semana: 230 com o Real Madrid, 118 com o Manchester United, cinco com o Sporting de Lisboa e 47 pela seleção portuguesa. O jogo da segunda-feira no estádio Santiago Bernabéu, em Madri, começou com um minuto de silêncio em homenagem a Eusébio, que estava sendo sepultado no cemitério do Lumiar, em Lisboa.

    O Real Madrid derrotou o Celta de Vigo por três a zero. Ronaldo marcou dois gols. Depois da partida, disse sobre Eusébio: "Ele sempre esteve perto de mim e me ajudou muito. É uma figura mítica, e o dia de hoje é muito triste para mim. Dedico meus dois gols a você, Eusébio, mas a verdade é que você os marcou. Você está sempre em meu coração".

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

    kenneth maxwell

    Escreveu até julho de 2015

    É historiador britânico graduado em Cambridge (Reino Unido) com doutorado em Princeton (EUA). É referência na historiografia sobre o período colonial brasileiro.

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