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    Kenneth Maxwell

    Abril em Portugal

    24/04/2014 03h00

    Estou em Lisboa para o 40º aniversário da Revolução dos Cravos de 1974, participando de duas conferências –uma sobre os 40 anos de democracia e outra a respeito dos 48 anos de ditadura.

    As duas sessões foram encerradas por palestras de três ex-presidentes democraticamente eleitos –o general António Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio. De acordo com uma recente pesquisa, mais de 60% da população aprova a revolução.

    O estado atual da economia portuguesa e a impopularidade da atual coalizão governante de centro-direita dominaram as palestras de Eanes, Soares e Sampaio. Ainda que tenham ocasionalmente sido inimigos no passado, agora os três são unânimes em suas críticas. Mas estavam só posando diante de uma plateia altamente contemplativa.

    O regime de Salazar durou mais que qualquer outra ditadura de direita na Europa. Foi um regime que nos anos 30 se declarou um "Estado Novo" e tomou de empréstimo muitos de seus traços opressivos –da polícia secreta à censura draconiana, das leis trabalhistas ao movimento paramilitar da juventude nacionalista– dos regimes de Mussolini e Hitler. Mas Salazar, assim como Franco na Espanha, manteve-se neutro durante a Segunda Guerra Mundial. E depois da vitória dos Aliados, em 1945, Portugal recebeu assistência sob o Plano Marshall e foi membro fundador da Otan (Organização para o Tratado do Atlântico Norte).

    Em 1955, depois de um acordo entre Moscou e Washington, Portugal (e Espanha) foram admitidos à ONU. Na época, o ex-secretário de Estado norte-americano Dean Acheson observou que "um libertário teria motivos para desaprovar o dr. Salazar, mas duvido que Platão o fizesse".

    A intransigência de Portugal na defesa de seu império na África causou o colapso completo da estrutura. Com um exército de 150 mil homens estacionado na África em 1974, 60 mil dos quais em Angola, e com 25% dos homens em idade militar do país servindo às Forças Armadas, o fardo se havia tornado insustentável.

    Os EUA e seus aliados ocidentais foram os últimos a saber quem eram os soldados desalinhados e os variados "esquerdistas" que emergiram subitamente da apodrecida estrutura de Portugal. Foi, afinal, o capitão Salgueiro Maia, cedo na manhã de 25 de abril de 1974, que, na grande praça do Comércio, criada no século 18 diante do mar de Lisboa, liderou as tropas diretamente responsáveis pela derrubada do velho regime português.

    Como afirmava o emblemático pôster de Maria Helena Vieira da Silva para o 25 de abril, tomando de empréstimo um verso da poetisa portuguesa Sophia de Mello Breyner, "a poesia está na rua".

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

    kenneth maxwell

    Escreveu até julho de 2015

    É historiador britânico graduado em Cambridge (Reino Unido) com doutorado em Princeton (EUA). É referência na historiografia sobre o período colonial brasileiro.

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