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    Kenneth Maxwell

    Trapaças na Copa

    05/06/2014 02h00

    O "New York Times" publicou um relatório detalhado sobre a vulnerabilidade da Copa do Mundo à manipulação de resultados feita por uma organização sediada em Cingapura que se infiltrou nos mais altos escalões do futebol mundial para promover apostas.

    A investigação do "NYT" examina o papel de Tan Seet Eng, cuja organização cingapuriana manipula resultados de partidas ao subornar jogadores, árbitros e técnicos. Os jogadores podem receber US$ 20 mil para perder um jogo, e o giro de dinheiro em apostas é estimado em US$ 1 bilhão por jogo. Calcula-se que o crime organizado lave por ano cerca de US$ 85 bilhões em fundos ilegais por meio de trapaças como essas. Tan está preso em Cingapura, mas é improvável que seja julgado. Sua organização continua a florescer.

    Já o "Sunday Times", de Londres, examinou alegações de que a escolha do Qatar para sediar o Mundial de 2022 resultou de subornos pagos a membros africanos do comitê de seleção da Fifa, com foco no papel desempenhado por Mohamed bin Hammam, do Qatar, que foi membro-executivo da Fifa.

    Ele planejava disputar a presidência da Fifa contra Joseph Blatter em 2011, mas foi barrado permanentemente da organização em meio a uma série de acusações de suborno em 2012. Com base em documentos que chegaram à Redação, o "Sunday Times" afirma que Bin Hammam canalizou pagamentos de US$ 5 milhões a um fundo clandestino que ele controlava a fim de garantir votos favoráveis ao Qatar. O jornal promete novas revelações.

    Com a Copa do Mundo no Brasil, a Fifa espera faturar US$ 4 bilhões por meio de direitos de transmissão, acordos de patrocínio e vendas de ingressos –valor minúsculo diante dos dólares envolvidos nas apostas clandestinas.

    As reportagens mostram que os apostadores não são africanos; são europeus e asiáticos. A Europol (serviço europeu de polícia) estima que entre 2008 e 2011 tenham ocorrido 680 partidas suspeitas, de jogos das eliminatórias da Copa a partidas de campeonatos europeus.

    Michael Garcia, investigador de questões éticas da Fifa, concluirá seu inquérito sobre suborno e corrupção na segunda-feira (9), após 18 meses questionando os envolvidos na disputa pela organização dos Mundiais de 2018 e 2022. Ele não examinará os documentos do "Sunday Times".

    Austrália e Japão, derrotados na disputa pela Copa de 2022, requereram uma nova disputa. O Qatar afirmou que Bin Hammam não participou do comitê organizador da candidatura do país. As conclusões de Garcia afetarão a decisão de Blatter de repetir ou não a votação. Blatter, no entanto, vai disputar um quinto mandato. Assim, não espere que alguma coisa melhore na Fifa no futuro próximo.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

    kenneth maxwell

    Escreveu até julho de 2015

    É historiador britânico graduado em Cambridge (Reino Unido) com doutorado em Princeton (EUA). É referência na historiografia sobre o período colonial brasileiro.

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