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    Kenneth Maxwell

    O bla-bla-blá de Blatter

    12/06/2014 02h00

    Joseph Blatter nasceu em Visp, Suíça, em 1936. É presidente da Fifa desde 1998, e foi reeleito em 2002, 2007 e 2011. Disputará sua quarta reeleição no ano que vem. É um homem do futuro, sempre foi e sempre será. No começo dos anos 70, foi eleito presidente da "Sociedade Mundial dos Amigos da Cinta-Liga", uma organização que tentava impedir que as mulheres substituíssem as cintas-ligas por meias-calças.

    Seus mandatos foram todos maculados por rumores de irregularidades financeiras e tramoias de bastidores. As mais recentes alegações surpreenderão a poucos dos que acompanham a Fifa ao longo dos anos e não serão surpresa alguma para os brasileiros. Afinal, Blatter sucedeu a João Havelange, 98, o brasileiro que criou essa tradição de manipulação. Ricardo Teixeira, que foi genro de Havelange, presidiu a Confederação Brasileira de Futebol por mais de duas décadas.

    Promotores suíços alegaram em 2012 que Teixeira e seu sogro receberam US$ 41 milhões em subornos, em transações ligadas à Copa, quando eram membros do comitê executivo da Fifa. Em 2013, Havelange renunciou à presidência honorária da Fifa e, em 2012, Teixeira renunciou ao seu posto no Brasil por "motivos médicos".

    Havelange leva o crédito por expandir a presença da Fifa na África e na Ásia, que continuam a ser os baluartes de apoio a Blatter.

    Este acusou a imprensa britânica de "racismo" em uma defesa veemente contra as acusações do "Sunday Times", de Londres, de que o processo de seleção do Qatar como sede do Mundial de 2022 havia sido prejudicado pela corrupção. A Uefa, organização que comanda o futebol europeu, pediu a renúncia de Blatter. Michael van Praag, presidente da Federação Holandesa de Futebol, declarou que Blatter "não deveria ser candidato à reeleição porque a imagem da Fifa foi maculada em sua presidência". Greg Dyke, presidente da federação inglesa, disse que as declarações de Blatter de que o racismo era a causa das alegações de corrupção eram "totalmente inaceitáveis".

    Blatter dará alguma atenção a esses apelos? É improvável. Ele prefere a Rússia e o Qatar. Ao contrário do ruidoso, bagunçado, caótico e propenso a greves, mas ao mesmo tempo gloriosamente multirracial e democrático Brasil, na Rússia e no Qatar não haverá manifestações. São dois regimes adequadamente autoritários. E tampouco haverá risco de homossexualidade, que é ilegal no Qatar e virtualmente ilegal na Rússia. Como disse Blatter, os torcedores gays "simplesmente terão de se abster de atividades sexuais".

    A Copa do Mundo será bem limpinha e arrumadinha em 2018 e 2022, exatamente como mulheres usando cintas-ligas.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

    kenneth maxwell

    Escreveu até julho de 2015

    É historiador britânico graduado em Cambridge (Reino Unido) com doutorado em Princeton (EUA). É referência na historiografia sobre o período colonial brasileiro.

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