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    Kenneth Maxwell

    Becos sem saída

    24/07/2014 02h00

    Crises sempre parecem acontecer ao mesmo tempo no Oriente Médio e na Europa Oriental. Em 1956, a crise causada quando Nasser estatizou o canal de Suez coincidiu com a repressão soviética à revolução democrática na Hungria. O Ocidente nada fez para apoiar os rebeldes em Budapeste.

    Em 1967, a vitória israelense sobre o Egito, Jordânia e Síria na "Guerra dos Seis Dias" propiciou a Israel o controle sobre Gaza, a Cisjordânia, as colinas do Golã e (por algum tempo) a península do Sinai.

    Em 1968, tanques soviéticos, apoiados por outras forças armadas do bloco da URSS, ocuparam o território da Tchecoslováquia e puseram fim à "Primavera de Praga". O Ocidente, uma vez mais, nada fez.

    Desta vez a crise envolve Israel e Gaza, e Ucrânia e Rússia. A primeira começou com o sequestro e homicídio de três adolescentes israelenses e o subsequente sequestro e homicídio de um jovem palestino. O Hamas disparou centenas de foguetes contra Israel. A maioria foi destruída antes de atingir seus alvos pelo sistema israelense de defesa antimísseis. Mesmo assim, até esta semana mais de 600 civis palestinos haviam sido mortos em Gaza por ataques aéreos israelenses, disparos de artilharia vindos por terra e mar, e como resultado de uma grande invasão por via terrestre.

    Ban Ki-moon, o secretário-geral da ONU, em visita a Tel Aviv, declarou em entrevista coletiva conjunta com o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu que "Israel e o Hamas precisam parar de combater e começar a conversar". Nenhum dos dois lados está disposto a isso. Netanyahu respondeu que "Gaza é governada pelo brutal regime do Hamas, que é islâmico e extremista como o Boko Haram, o Estado Islâmico e o Hizbollah". Obama quer um cessar-fogo imediato, mas declarou que Israel tem "direito à autodefesa". De qualquer forma, o apoio a Netanyahu no Congresso dos EUA é bem maior do que o apoio ao presidente.

    A crise de Gaza coincide com o conflito continuado na Ucrânia, agravado pela derrubada de um avião da Malaysia Airlines que transportava quase 300 pessoas. O míssil foi disparado de uma área controlada por uma milícia pró-Rússia. A maioria das vítimas era holandesa. Depois de tensas negociações, a milícia liberou os corpos de 200 vítimas e entregou as duas caixas pretas do avião a representantes malasianos. Em Bruxelas, os ministros do Exterior da União Europeia se reuniram e prometeram mais ação contra Vladimir Putin. Falar é fácil. Já implementar é mais problemática –e Putin sabe disso.

    O problema é que esses dois conflitos são becos sem saída. Nenhum dos envolvidos tem incentivos para aceitar compromissos. O mais provável é que ambas as crises piorem, em lugar de melhorar.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

    kenneth maxwell

    Escreveu até julho de 2015

    É historiador britânico graduado em Cambridge (Reino Unido) com doutorado em Princeton (EUA). É referência na historiografia sobre o período colonial brasileiro.

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