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    Kenneth Maxwell

    Putin Fênix

    04/09/2014 02h00

    Obama esteve nesta quarta (3) na Estônia e se reuniu com os presidentes de Estônia, Letônia e Lituânia. Donald Tusk, primeiro-ministro da Polônia, em março, apelou à Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan) pela presença permanente de 10 mil soldados da aliança em seu país. Angela Merkel, a chanceler alemã, rejeitou a ideia da presença de longo prazo da Otan na Europa Oriental. Tusk defende a linha dura quanto à Ucrânia e Rússia e, em dezembro, assumirá a presidência do Conselho Europeu.

    Hoje (4), Obama participará da conferência de cúpula semestral da Otan. Os chefes de Estado discutirão a crise na Ucrânia, no Oriente Médio e no Afeganistão. Mas o que mais os ocupará será o presidente russo Vladimir Putin. Terão de decidir como devolver à Otan seu papel original: a defesa territorial da Europa contra potencial agressão por Moscou.

    Não será fácil. Os líderes europeus e Obama discordam consideravelmente em suas reações a Putin. Ontem, sob grande pressão da Otan, o presidente francês François Hollande suspendeu a entrega de um porta-helicópteros para a Rússia. A Noruega manteve seu contrato com a estatal russa Rosneft para o fornecimento de US$ 4,25 bilhões em plataformas de petróleo na região ártica russa. Os EUA respondem por 66,6% das despesas militares da Otan, o Reino Unido contribui com 6,1%, a França com 6,6%, e a Alemanha com 5,3%.

    A percepção de fraqueza alimenta uma narrativa perigosa. Putin evidentemente calcula que pode ignorar os protestos retóricos de Merkel e Obama enquanto avança a fim de abocanhar uma porção maior da Ucrânia, possivelmente criando uma ponte terrestre entre a Rússia e a Crimeia. Ele aposta em ganhos estratégicos a longo prazo, e que a Europa, no fim, evitará um confronto.

    Dmitry Rogozin, primeiro-ministro assistente da Rússia, postou imagens de Putin e Obama no Twitter. Putin, como "Macho Man", acaricia um leopardo, e Obama, um cachorrinho. Putin tem mais de 80% de aprovação na Rússia. A Otan certamente fechará o acordo para estabelecer uma força de cerca de 10 mil soldados. Mas isso não é resposta para os 150 mil soldados que a Rússia mobilizou para manobras ao longo das fronteiras dos Países Bálticos e da Ucrânia, em fevereiro. Tampouco responde ao nacionalismo, irredentismo e agressão militar camufladas empregadas na Ucrânia.

    Gideon Rachman, em artigo no "Financial Times", alerta que "a percepção de declínio do poderio ocidental é uma profecia que ameaça se confirmar. A única maneira de norte-americanos e europeus evitarem isso é trabalharem juntos com maior determinação e propósito a fim de combater as crises que queimam sem controle na Europa e no Oriente Médio". Putin está calculando que a tarefa será difícil demais.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

    kenneth maxwell

    Escreveu até julho de 2015

    É historiador britânico graduado em Cambridge (Reino Unido) com doutorado em Princeton (EUA). É referência na historiografia sobre o período colonial brasileiro.

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