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    Kenneth Maxwell

    Guerra Fria

    06/11/2014 02h00

    Este fim de semana (9 de novembro) marcará o 25º aniversário da queda do Muro de Berlim. Entre a construção, em 1961, e a demolição em 1989, foi o símbolo mais palpável da Guerra Fria na Europa e pano de fundo de muitos embates entre o Ocidente e o Leste.

    Diante do Portão de Brandemburgo, bloqueado pelo Muro, John Kennedy fez em 1963 o famoso discurso "Ich bin ein Berliner". Em 1987, Ronald Reagan instou Mikhail Gorbatchev a "derrubar esse muro". Curiosamente, estive em Berlim em 1961, pouco antes de o Muro subir, e em 1989, pouco antes da queda.

    Em 1989, o comunismo da Alemanha Oriental enfrentava crise: o surgimento de Gorbatchev como líder soviético em 1985; a democratização de Polônia e Hungria; e, o mais importante, a abertura da fronteira entre Hungria e Áustria –milhares de alemães orientais invadiram a Hungria esperando chegar à Áustria.

    Os alemães orientais fecharam a fronteira com a Hungria, e muitos acamparam diante das embaixadas da Alemanha Ocidental em Varsóvia e Praga. Acordo permitiu que trens selados fossem à Alemanha Ocidental, passando por território oriental. Em Dresden, onde Vladimir Putin servia como jovem oficial do KGB, milhares tentaram invadir a estação e embarcar nos trens.

    Em 7 e 8 de outubro, para celebrar o 40º aniversário da Alemanha Oriental, Gorbatchev foi a Berlim Oriental e abraçou Erich Honecker, líder do país. Foi o beijo de Judas. Gorbatchev não pretendia defender o regime de Honecker.

    Imensa manifestação pró-democracia aconteceu em Leipzig, e Honecker enviou paraquedistas de elite. Líderes comunistas locais não queriam um massacre, e Gorbatchev não permitiu que as tropas soviéticas deixassem seus quartéis. Honecker renunciou em 18 de outubro. Em 4 de novembro, mais de um milhão de alemães orientais se reuniram pela democracia em Berlim Oriental, e em 9 de novembro o Muro foi violado: milhares de pessoas atravessaram a fronteira. Dois anos mais tarde, a União Soviética acabou.

    Honecker fugiu para a embaixada do Chile em Moscou, mas foi extraditado para a Alemanha. Problemas de saúde resultaram no abandono de seu julgamento, e ele se uniu à sua família no Chile.

    Morreu de câncer em 1994, mas sua mulher, Margot, não tem arrependimento pela Alemanha Oriental: "É uma tragédia que aquela terra já não exista", disse em 2012. E 59% dos antigos moradores concordam. Especialmente os com mais de 60 anos. Não se lembram da repressão da Stasi, a polícia secreta, ou do Muro de Berlim, mas do modo de vida perdido do comunismo. Putin não é o único a sentir nostalgia pelos bons e velhos dias da União Soviética e de seu império comunista na Europa.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

    kenneth maxwell

    Escreveu até julho de 2015

    É historiador britânico graduado em Cambridge (Reino Unido) com doutorado em Princeton (EUA). É referência na historiografia sobre o período colonial brasileiro.

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