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    Kenneth Maxwell

    Colapso total

    20/11/2014 02h00

    A crise cada vez mais intensa na Petrobras, a detenção de executivos de empreiteiras, alegações de desfalques para ganho pessoal, propinas pagas por contratos superfaturados e a acusação de que isso envolveu pagamento de comissões a políticos brasileiros, entre os quais congressistas, governadores e ministros, bem como a partidos políticos, remetem ao eixo central da corrupção brasileira. É um escândalo de implicações espantosas e representa o maior desafio para a elite econômica e judicial brasileira desde o final do governo militar.

    Paulo Roberto Costa acusou mais de 40 políticos de envolvimento em um esquema de comissões envolvendo sobretaxa de 3% sobre o valor dos contratos. Em companhia de Alberto Youssef, ele aparentemente fechou um acordo de admissão de culpa em troca de leniência. Dilma Rousseff declarou na Austrália que "isso pode mudar o país para sempre". Ela acrescentou que o caso "acabaria com a impunidade". Mas entre 2003 e 2010, Dilma foi presidente do Conselho da Petrobras. Também foi ministra da Energia. E é famosa pelo detalhismo de sua gestão.

    Se isso fosse apenas uma questão brasileira, o escândalo poderia ser contido. Mas não é. A Petrobras é responsável por um quarto dos títulos brasileiros denominados em dólares e tem ADRs cotados na Bolsa de Nova York. A empresa está sendo investigada pela SEC (Securities and Exchange Commission) e pelo Departamento de Justiça dos EUA. Entre as revelações feitas por Edward Snowden estava o fato de que os EUA espionavam a Petrobras. A SBM, da Holanda, já encerrou por acordo um caso de suborno envolvendo Brasil, Angola e países da África, pagando US$ 240 milhões.

    Lamento jamais ter conhecido Paulo Francis. Elio Gaspari queria organizar um almoço para que nos conhecêssemos, mas o encontro acabou não saindo. Francis foi vilipendiado por "falar a verdade aos poderosos" no programa "Manhattan Connection", quando disse que "todos os diretores da Petrobras têm contas na Suíça". Os agentes da Petrobras perseguiram Francis com um processo judicial milionário, até sua morte prematura por ataque cardíaco em 1997.

    Paulo Francis sem dúvida teria ficado muito satisfeito com as denúncias de Costa. Mas não tenha dúvida de que as forças em torno da Petrobras, das empreiteiras e dos políticos não são menos formidáveis hoje do que em 1997. A Petrobras é um pilar da economia brasileira: orgulho nacionalista; patrocínios culturais e acadêmicos; 67 mil empregos; e bilhões de dólares em investimento estão envolvidos, bem como as reputações de membros da elite brasileira. Será preciso mais do que a ação corajosa de uns poucos procuradores para deslindar essa trama.

    kenneth maxwell

    Escreveu até julho de 2015

    É historiador britânico graduado em Cambridge (Reino Unido) com doutorado em Princeton (EUA). É referência na historiografia sobre o período colonial brasileiro.

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