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    Kenneth Maxwell

    George Orwell

    11/12/2014 02h00

    Faz 65 anos que George Orwell morreu. Ele é famoso principalmente pelos romances "1984" e "A Revolução dos Bichos" e pelos conceitos de "novilíngua", "duplipensar", "despessoa" e "crimideia". A sala 101, onde Winston Smith enfrenta seus piores pesadelos em "1984", baseava-se nos dois anos em que Orwell trabalhou para a BBC (1941-1943) como assistente para palestras na seção indiana do serviço oriental da rádio britânica.

    A sala 101 recebeu o nome da sala de reuniões sem janelas na qual, segundo Orwell, "tudo que fazemos no momento é inútil ou um pouco pior que inútil". Mesmo assim, a BBC planeja uma estátua em sua honra. Isso a despeito de ele ter pouca tolerância por estátuas de bronze de celebridades mortas. Para ele, só bloqueavam a visão da paisagem.

    Também escreveu "Na Pior em Londres e Paris" e "A Caminho de Wigan" ["The Road to Wigan Pier"]. O píer do título original foi conceitual. Wigan é uma cidade longe do mar, onde ele viveu em 1936 para escrever sobre o norte industrial da Inglaterra na Grande Depressão. "Lutando na Espanha" é um relato perturbador e brilhante da disputa interna da esquerda na Guerra Civil Espanhola, entre stalinistas e o POUM, partido de esquerda antistalinista e antifascista do qual fez parte.

    Orwell era o nome literário de Eric Arthur Blair, nascido na Índia e morto aos 46, de tuberculose, em Londres. Estudou em Eton, o mais prestigioso dos colégios particulares ingleses, mas trabalhou como policial na Birmânia –o que o tornou anti-imperialista. A Guerra Civil Espanhola o fez inimigo do totalitarismo.

    Por atacar Stalin, Orwell foi adotado na Guerra Fria por ideólogos anticomunistas. Tanto "A Revolução dos Bichos" quanto "1984" foram usados como propaganda contra a União Soviética. No final da vida, ele secretamente denunciou amigos e colegas por supostas simpatias clandestinas pelo comunismo. Ainda assim, em 1998 uma coleção em 20 volumes de suas obras completas foi publicada e reuniu escritos que demonstram o pleno escopo e a escala de suas realizações como escritor. A frase "todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que os outros" ainda ecoa. Mesmo no Brasil.

    Acima de tudo é sua premonição sobre a ascensão do Estado de vigilância que continua relevante, mais que nunca. Edward Snowden encara as tecnologias que ele descreve como "tacanhas e pouco imaginativas". Talvez sejam. Mas as revelações sobre a Agência Nacional de Segurança (NSA), segundo a Bloomberg News, levaram "1984" do 11.855º ao terceiro posto em vendas da Amazon nos EUA. "Se a liberdade significa alguma coisa, significa o direito de dizer às pessoas o que elas não querem ouvir", disse Orwell.


    Tradução de PAULO MIGLIACCI

    kenneth maxwell

    Escreveu até julho de 2015

    É historiador britânico graduado em Cambridge (Reino Unido) com doutorado em Princeton (EUA). É referência na historiografia sobre o período colonial brasileiro.

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