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    Kenneth Maxwell

    História atlântica

    19/02/2015 02h00

    Houve um desenvolvimento espetacular do interesse acadêmico pela história do Atlântico nos últimos anos. Parte disso é resultado da influência do professor Bernard Bailyn, 92, de Harvard. Duas vezes ganhador do Prêmio Pulitzer de História, entre 1995 e 2010 ele comandou um seminário anual sobre a "História do Mundo Atlântico, 1500-1825". Com apoio da Fundação Mellon, ele levou 366 jovens historiadores a Harvard –202 dos EUA e 164 do exterior, entre os quais Júnia Ferreira Furtado, da UFMG. Um dos pontos altos dos meus anos em Harvard era participar desses seminários estimulantes.

    O livro mais recente da professora Furtado, "Oráculos da Geografia Iluminista: Dom Luis da Cunha e Jean-Baptiste Bourguignon D'Anville na construção da cartografia do Brasil" (2012), é excelente exemplo do tipo de história que Bailyn encorajava. Ela trata da interseção entre história, cartografia e diplomacia e estuda a colaboração entre o embaixador de Portugal em Paris, dom Luis da Cunha, e o cartógrafo francês na produção de sua "Carte de l'Amérique Meridionale", publicada em 1748.

    Furtado demonstra que o mapa era não só a mais precisa representação da América do Sul publicada até então como resultava da colaboração ativa de dom Luis, que visava fortalecer as reivindicações portuguesas nas negociações com a Espanha sobre as fronteiras entre o Brasil e a América espanhola. Seu livro se baseia em pesquisas feitas no Brasil, Portugal, França, Espanha, Alemanha e EUA e tem ilustrações magníficas. Conquistou o Prêmio Odebrecht""Clarival do Prado, em 2013.

    Até recentemente a história do Brasil holandês estava ausente dos esforços acadêmicos internacionais. Há, é claro, os clássicos de José Antônio Gonçalves de Mello, "Tempo dos Flamengos" (1947), Charles Boxer, "The Dutch in Brazil" (1957), e trabalhos recentes de Evaldo Cabral de Mello, como "Olinda Restaurada" (1975) e "O Negócio do Brasil" (1998).

    Agora uma nova geração retomou esses tópicos. O jovem historiador Daniel Strum, de Stanford, faz em "The Sugar Trade: Brazil, Portugal, and the Netherlands 1595-1630" (2013) um relato de navegação e descobertas navais, transações financeiras e relações entre mercadores, agentes e feitores no período de crescimento explosivo do comércio de açúcar do Atlântico, com uma profusão de gráficos, tabelas e imagens magníficas. Ele descreve os elos mercantis que uniam povos e transportavam bens de um lugar a outro. Seu livro é uma introdução indispensável à complexa, problemática e por fim malsucedida história dos holandeses no Brasil.

    Assim como Furtado, o livro de Strum ganhou o Prêmio Odebrecht""Clarival do Prado. São dois excelentes exemplos de pesquisa e de patrocínio.

    kenneth maxwell

    Escreveu até julho de 2015

    É historiador britânico graduado em Cambridge (Reino Unido) com doutorado em Princeton (EUA). É referência na historiografia sobre o período colonial brasileiro.

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