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    Kenneth Maxwell

    O velho oeste

    12/03/2015 02h00

    Agradeço a Márcio Polidoro, coordenador do Comitê Cultural Odebrecht, por me enviar a edição em inglês do livro de Janaína Amado e Leny Caselli Anzai, "Luís de Albuquerque: Travels and Administration of Mato Grosso (1771-1791)". Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres, nascido em 1739 em Beira Alta, Portugal, serviu na fronteira entre Portugal e Espanha. Era um oficial competente e bem relacionado e teve excelente treinamento em engenharia militar; em 1771, foi apontado como governador do Mato Grosso pelo marquês de Pombal.

    Era uma posição crítica, na fronteira oeste do Brasil. Havia sido descoberto ouro no vale do rio Guaporé, e os dois grandes sistemas fluviais da América do Sul convergem lá. As difíceis comunicações ribeirinhas entre o extremo oeste do Brasil e Belém haviam sido estabelecidas pouco tempo antes. A tarefa do governador era fortificar o Mato Grosso contra os espanhóis, incentivar a colonização e conduzir trabalhos de agrimensura na região, que tinha grande importância geoestratégica para Portugal.

    O livro é uma maravilhosa combinação de pesquisa, cartografia, ilustrações e fotografia contemporânea e reflete bem o escopo e o contexto das atividades de Albuquerque. As coleções de animais, minerais, mapas, plantas, aquarelas e armas são bastante extraordinárias.

    Mas o livro tem interesse mais que passageiro para mim. Seus principais documentos são as meticulosas transcrições de Luis Carlos Figueiredo para os diários que Albuquerque manteve em sua viagem do Rio de Janeiro a Vila Bella, então capital de Mato Grosso, via Minas Gerais e Goiás. Além do diário de sua viagem fluvial de volta à Belém, então capital do Grão-Pará e Maranhão, pelos rios Guaporé, Madeira e Amazonas.
    Esses diários estão no acervo da biblioteca Newberry, em Chicago. Foram adquiridos para a coleção Greenlee da biblioteca por Richard Ramer, comerciante norte-americano de livros e manuscritos raros. Eu o conhecia muito bem. Ele me pediu para avaliar os diários, encadernados em couro e escritos a lápis, em 1994, o que eu fiz, e atribuí sua autoria a Luís de Albuquerque. Não sabia que eles iriam para a Newberry, e é uma alegria vê-los hoje, inseridos de maneira tão magnífica em seu contexto histórico pleno.

    Também conheço bem a Newberry. Passei um ano produtivo lá como aluno de pós-graduação, de 1968 a 1969, instalado nos porões da velha biblioteca, onde podia trabalhar sem perturbações, cercado pelos manuscritos e livros raros da Greenlee. O curador da coleção na época era Fred Hall, que havia vivido no Brasil, conhecia muitos brasileiros e era um guardião paternal de tudo relacionado ao país. Desfrutei muitos almoços memoráveis com ele. Hall com certeza ficaria feliz por ver os diários de Albuquerque publicados de maneira tão condigna.


    Tradução de PAULO MIGLIACCI

    kenneth maxwell

    Escreveu até julho de 2015

    É historiador britânico graduado em Cambridge (Reino Unido) com doutorado em Princeton (EUA). É referência na historiografia sobre o período colonial brasileiro.

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