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    Kenneth Maxwell

    A eleição britânica

    30/04/2015 02h00

    Falta apenas uma semana para a eleição geral britânica. Ela será realizada dia 7 de maio.

    Para os dois principais partidos, o Trabalhista, de Ed Miliband, e o Conservador, de David Cameron, as pesquisas de opinião não mudam há semanas. As projeções são de que nenhum deles conquistará assentos suficientes para formar um governo majoritário.

    Tanto Miliband quanto Cameron vêm conduzindo campanhas controladas, como se tivessem medo de se encontrar com eleitores reais. Só os fiéis de seus partidos participam de eventos cuidadosamente orquestrados. Os candidatos parecem temer que alguém lhes faça uma pergunta "inapropriada". Ou, o mais provável, querem evitar o risco de uma resposta "inapropriada".

    Os dois parecem temer um momento Gordon Brown, ou seja, passar por emboscada parecida com a enfrentada pelo antigo primeiro-ministro, a quem uma eleitora furiosa abordou na eleição passada perguntando a opinião dele sobre a imigração. Brown se esqueceu de que seu microfone estava ligado e resmungou que a mulher era "uma fanática". Talvez fosse. Mas o "momento Gordon Brown" apavora os políticos, que temem que seus comentários possam ser registrados e repetidos na TV, como o de Brown foi.

    O que fica claro a uma semana do pleito é que os dois estão desesperados por algo que movimente as pesquisas em seu favor e vêm se atacando sobre os acordos que poderiam, ou não, fazer com partidos menores depois da eleição.

    Se as projeções se confirmarem, o Partido Nacional Escocês (SNP) está a caminho de virtualmente eliminar o Partido Trabalhista na Escócia, elegendo até 40 membros para o Parlamento, o que pode dar ao partido o papel de fiel da balança na constelação política britânica. O SNP já deixou claro que não apoiará os conservadores.

    David Cameron alertou sobre o fato de que os trabalhistas dependerão do SNP e que isso será um desastre. Isso só serve para ampliar o apoio ao SNP no norte da fronteira, onde os conservadores são vistos como tóxicos desde a era Thatcher. A liderança mais vivaz e natural a emergir na campanha é a primeira-ministra escocesa Nicola Sturgeon, que gosta de conversar com pessoas nas ruas e se provou muito efetiva.

    Cameron vem promovendo a ideia de "leis inglesas para eleitores ingleses" como forma de combater o apelo populista do Partido pela Independência do Reino Unido (Ukip) e apoia um referendo sobre a participação britânica na União Europeia, algo a que o SNP, o Partido Nacional Galês e os trabalhistas se opõem.

    Há muito em jogo, tanto para o futuro do Reino Unido quanto para o da Europa, mesmo que as pesquisas prevejam um resultado muito confuso. Teremos de esperar para ver.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

    kenneth maxwell

    Escreveu até julho de 2015

    É historiador britânico graduado em Cambridge (Reino Unido) com doutorado em Princeton (EUA). É referência na historiografia sobre o período colonial brasileiro.

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