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    Kim Kataguiri

    A ocupação dos desocupados

    17/05/2016 02h00

    Sem uma presidente da República para defender e um presidente da Câmara para atacar, setores da esquerda têm se dedicado a aparecer em atos menores e muito mais desastrados. É o caso da invasão da Etec Basilides de Godoy, na zona oeste de São Paulo.

    A Etec havia sido invadida no dia 3 de maio, num suposto protesto contra a falta de merenda, sem o apoio da maioria dos estudantes. Na última quinta (12), pais e alunos formaram um cordão humano e retiraram a minoria barulhenta. Apesar da bagunça deixada —que incluiu danos a computadores com informações sobre 30 mil alunos que já passaram pela instituição—, os jovens que queriam voltar a estudar começaram a reorganizar a escola para retomar as aulas.

    A maioria dos "manifestantes" que ocuparam a Basilides de Godoy nem estuda lá, como bem afirmou Thiago Carvalho, coordenador de cursos da Etec. É sabido que muitas dessas ocupações são organizadas por grupelhos como a Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) —que abriga estudantes secundaristas de 30 anos— e a UNE (União Nacional dos Estudantes), a mesma que promove "greve de aulas" contra o "golpe".

    Outro caso de ocupação foi o Centro Paula Souza, que, após ser retomado, estimou um prejuízo de R$ 80 mil por causa do arrombamento de gavetas e armários, depredação de portas e equipamentos e até furtos de notebooks, telefones, pendrives e dinheiro de funcionários da instituição.

    Supondo que, de fato, esses "protestos" sejam contra a falta de merenda, a culpa está longe de ser das Etecs. Ainda que a responsabilidade fosse das escolas, impedir que aqueles que querem estudar entrem nas salas de aula não resolveria o problema. Os únicos prejudicados nessa história são os estudantes, tanto que eles mesmos estão começando a reocupar as escolas tomadas por... desocupados.

    "Ah, mas então você é contra os estudantes?" A pergunta revela a vigarice de quem a faz. Passa-se a impressão de que toda crítica aos meios é uma crítica aos supostos fins. É claro que esses estudantes - e faço uma grande concessão ao partir da premissa de que realmente o são - podem protestar. Mas atrapalhar o estudo dos outros não é a única maneira de se manifestar.

    Se a população brasileira conseguiu derrubar uma presidente da República em protestos feitos quase sempre aos domingos - sem quebra-quebra, ocupações ou furtos -, por que estudantes não conseguiriam ter suas demandas atendidas se agissem de maneira semelhante?

    Eu defendo os estudantes. Estudante é quem estuda. Quem impede os outros de estudar em nome de interesses obscuros de partidos políticos não é estudante, é canalha.

    É coordenador do Movimento Brasil Livre.

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