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    Kim Kataguiri

    Sonhos do japonês

    24/05/2016 12h23

    Às vezes –quando não estou recebendo dólares ensopados de petróleo de bilionários americanos, conchavando golpes mirabolantes com meus comparsas tucanos ou jogando tênis no Qatar com meu grande amigo Cunha–, penso sobre como a política e a sociedade brasileiras poderiam ser diferentes.

    Imaginem um sistema político no qual o poder seja dividido em três. Um cuidaria da administração, outro criaria leis, e o terceiro garantiria que estas fossem cumpridas. Todos eles se controlariam mutuamente e trabalhariam de maneira harmônica, mas independente. Isso significa, por exemplo, que o Poder administrador jamais poderia submeter o Poder legislador às suas vontades. As normas jurídicas que delimitariam o escopo de cada um dos Poderes estariam escritas numa Carta cujas leis estariam acima de todas as outras. "Constituição" me parece um bom nome.

    Aqueles que disputassem uma vaga em um desses Três Poderes deveriam fazê-lo dentro das regras previstas nessa Constituição. Uma vez conquistado o cargo, as regras continuariam valendo, e, caso a pessoa transgredisse alguma delas, a principal punição seria perder seu posto –especialmente se o ato cometido envolvesse grandes somas de dinheiro e representasse uma ameaça à divisão do poder.

    Já imaginei coisas que só poderiam ter saído da cabeça de um japonês de humanas: militantes políticos que financiassem seus movimentos sem dinheiro público, e artistas que de fato fizessem arte, em vez de defender uma elite política corrupta com o dinheiro do pagador de impostos. Mais doido ainda seria uma Corte que protegesse as regras da Constituição e não desse espaço para militantes políticos de toga.

    Mas calma! A parte mais absurda, com certeza, vem agora. Talvez seja a coisa mais absurda já pensada. Imaginem se as pessoas se preocupassem mais com a competência do que com o sexo, a cor, o cabelo ou o tamanho da unha do dedo mindinho daqueles que governam?

    Imagino como seria se as pessoas se preocupassem mais com a coisa pública do que com os interesses de partidos políticos. Parece meio doido, não? "Res publica". República. É uma bela palavra. Pena que tenha gente tão pequena querendo acabar com ela.

    É coordenador do Movimento Brasil Livre.

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