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    Kim Kataguiri

    Defesa de sistema em lista fechada é pagamento de Rodrigo Maia ao PT

    18/10/2016 08h00

    Chello/FramePhoto/Folhapress
    O presidente da República em exercício, Rodrigo Maia, durante o Congresso Brasil Competitivo, em São Paulo, nesta quarta-feira
    O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ)

    Em seu discurso como candidato à presidência da Câmara dos Deputados, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) afirmou categoricamente: "Acordo fechado é acordo cumprido". Na primeira vez em que se pronunciou depois de assumir o cargo, agradeceu o apoio das bancadas comunista e petista na figura do deputado Afonso Florence (PT) e do ex-ministro Aldo Rebelo (PCdoB). Agora, escolheu um deputado petista, Vicente Cândido (SP), para relatar a reforma política. Parece que a fatura chegou.
     
    Nas últimas semanas, Rodrigo Maia tem defendido a adoção do sistema eleitoral de lista fechada. Nele, o eleitor vota numa lista de candidatos definida pelos partidos. As cadeiras vão sendo ocupadas pelos nomes que ocupam o topo dessas listas -que, sem a menor sombra de dúvida, seriam aqueles que melhor se relacionarem com os caciques partidários- de acordo com o número de votos que o partido obtém.
     
    Na prática, o poder dos velhos coronéis da política -que já aumentou muito nas últimas eleições em razão da proibição de doações de pessoas jurídicas e consequente aumento de relevância da distribuição do fundo partidário-, ficaria ainda maior. Novos nomes que quisessem se candidatar teriam de pedir a benção de antigos líderes e ainda acabariam ajudando políticos desconhecidos e desgastados a permanecer em seus cargos.
     
    O presidente da Câmara argumenta que, dada a mudança nas doações, é preciso adotar um sistema mais barato. Concordo que precisamos, urgentemente, mudar o nosso sistema eleitoral para um menos custoso. O problema é que o deputado parte da premissa de que o sistema em lista fechada é necessariamente mais barato -o que não é verdade- e se nega a enfrentar o fato de que a proibição de doação de empresas é um erro que precisa ser corrigido.
     
    Precisamos debater um modelo eleitoral que diminua drasticamente os custos de campanha, eleja quadros mais qualificados e resolva a crise de representatividade. O voto distrital misto, proposta do MBL, é, acredito, o que temos de mais próximo a uma solução ideal. Nele, os estados são divididos em pequenos distritos, o que reduz os custos de campanha porque o número de eleitores é muito menor; aumenta a representatividade, pois você vota em alguém mais próximo de você; a tendência é eleger políticos mais qualificados, pois há debate entre candidatos; e o voto de opinião não morre porque o eleitor, além de votar num candidato do distrito, também vota num partido.
     
    A reforma política é um tema importante demais para ser objeto de um negócio para obter um mandato-tampão na Presidência da Câmara. É absolutamente inaceitável que o sistema eleitoral, um dos principais pilares da democracia, não seja debatido com a sociedade e esteja sujeito a interesses obscuros e argumentações rasas.
     
    Rodrigo Maia precisa se preocupar mais com o país e menos em agradar o partido que destruiu o país.

    É coordenador do Movimento Brasil Livre.

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