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    Kim Kataguiri

    Nenhum nome da política tradicional é viável para 2018

    13/12/2016 12h02

    As esperadas revelações da Odebrecht começaram a aparecer. Com elas, os principais possíveis presidenciáveis foram jogados na lama. PMDB, PSDB, PT, ninguém saiu ileso. A eleição de 2018, que já seria turbulenta, tornou-se ainda mais imprevisível.

    Geraldo Alckmin, tucano que, até então, estava mais confortável que seus adversários de partido José Serra e Aécio Neves –que já haviam sido citados em vazamentos anteriores– foi atingido em cheio. Apesar do expressivo ganho de força do governador de São Paulo com a vitória de João Doria, sua competitividade ficou bem abalada pelo grave depoimento dado em acordo por executivos da Odebrecht, segundo o qual teria recebido R$ 2 milhões em dinheiro vivo para cobrir gastos das campanhas de 2010 e 2014.

    O presidente Michel Temer, cujos aliados, no início de seu mandato, acreditavam ser um bom nome para 2018 caso colocasse a economia nos trilhos –apesar de o próprio negar publicamente sua intenção de concorrer–, também foi queimado pela pré-delação. Temer teria pedido repasse de R$ 10 milhões, sendo R$ 6 milhões para Paulo Skaf, candidato do PMDB ao governo de São Paulo, e os R$ 4 milhões restantes divididos entre Eduardo Cunha (R$ 1 milhão), Eliseu Padilha, hoje chefe da Casa Civil, e José Yunes, amigo do presidente, para atender a interesses do partido.

    Até a ex-presidente Dilma, que alguns –até da antiga oposição– ainda acreditavam ser uma idealista absolutamente honesta, pediu, segundo depoimento de Marcelo Odebrecht, R$ 4 milhões da empreiteira para pagar dívidas da campanha da senadora Gleisi Hoffmann, que já é ré no STF por corrupção e lavagem de dinheiro. O mito da guerrilheira incorruptível caiu.

    Segundo o Datafolha, que, vale lembrar, errou mais da metade das previsões para cargos executivos no primeiro turno das eleições de 2014, a ex-petista Marina Silva (Rede) venceria em todas as hipóteses de segundo turno em 2018.

    Faz certo sentido que, de alguma maneira, Marina, com seu discurso "metapolítico", messiânico e demagógico, tenha conseguido se vender como uma figura que está acima "de toda essa sujeira que está aí". Porém, campanhas eleitorais mudam completamente o jogo —como vimos nessas eleições municipais, principalmente em São Paulo—, e aqueles que têm boa memória ainda lembram que a maga da selva, segundo Léo Pinheiro, da OAS, teria enviado um intermediário para pedir dinheiro à empreiteira, mas haveria de ser pelo caixa dois porque não queria seu nome associado à empresa. Janot pôs fim à delação de Pinheiro, e ninguém sabe até hoje por quê.

    Tudo indica que a tão esperada delação da Odebrecht deixará espaço aberto nas eleições de 2018. Resta saber se esse espaço será ocupado por um candidato honesto —não só legal, mas também intelectualmente–, pragmático e com propostas sérias ou por um populista aventureiro e aspirante a salvador da pátria.

    Em tempos de histeria, temos de trazer a racionalidade ao debate. Não foi apenas a corrupção que levou o Brasil à ruína. Há também o autoritarismo da ditadura da propina —que vai além da corrupção como mero fim e foi implantada pelo PT; a demagogia de prometer tudo sem se preocupar com o orçamento; o inchaço do Estado e o corporativismo. Não basta eleger uma pessoa honesta se ela não possuir um discurso coerente, se ela não defender novas práticas e um novo método de governo.

    Temer, Lula, Serra, Aécio, Alckmin, Marina, criticamos todos eles. Alguns perguntam, então, se o MBL já tem um candidato à Presidência da República. Não temos. No atual cenário –em que precisamos garantir a continuidade da Operação Lava Jato e apoiar reformas estruturantes no Congresso–, é muito cedo e pouco produtivo pensar nisso.

    O que sabemos, com certeza, é que quem quer que venha em 2018 não pode ser adepto das velhas práticas, de corrupção institucionalizada, do populismo e da demagogia.

    É coordenador do Movimento Brasil Livre.

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