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Monday, 29-Apr-2024 12:55:13 -03Laura Carvalho
Recuperação da economia será a mais lenta da história
07/12/2017 02h00
A revisão dos números do PIB feita pelo IBGE na sexta-feira (1º) indicou que a recessão de 2015-2016 não foi a mais profunda da história.
De acordo com os números recém-divulgados, a economia encolheu 8,2% na crise de 2015-2016, ante queda de 8,5% do PIB na de 1981-1983. Os dados anteriores apontavam contração de 8,6% na crise mais recente.
A diferença de três décimos é pequena, mas suficiente para interditar no noticiário e nas análises econômicas a expressão "a maior crise da nossa história". O problema é que, mesmo que não tenha sido a mais profunda, a crise dos últimos anos parece estar sendo sucedida pela mais lenta das recuperações.
Tomemos como parâmetro as três maiores crises medidas pelo Codace (Comitê de Datação de Ciclos Econômicos).A primeira —essa sim a maior de nossa história— teve início no primeiro trimestre de 1981 e durou nove trimestres, com o vale (que costumamos chamar de fundo do poço) tendo sido atingido no primeiro trimestre de 1983. Dali em diante, a economia levou sete trimestres para retornar ao PIB pré-crise, que só é superado no fim de 1984.
A segunda entre nossas maiores recessões foi a que vigorou entre o terceiro trimestre de 1989 e o primeiro trimestre de 1992. A queda nesse caso foi mais longa, durou 11 trimestres, mas sua magnitude foi um pouco menor —7,7% no acumulado. Ainda assim, a velocidade de recuperação foi a mesma que na crise anterior: no fim de 1993, após sete trimestres, a economia atingiu seu nível pré-crise.
Segundo o Codace, a crise de 2015-2016 teve início no segundo trimestre de 2014 e durou 11 trimestres, ficando empatada com a recessão de 1989-1992 no posto de "mais longa da nossa história". Passados três trimestres desde o fundo do poço, que foi atingido em dezembro de 2016, a economia ainda encontra-se em um nível 6,2% menor do que o que vigorava em março de 2014.
PIB - Trimestre X trimestre imediatamente anterior, em %
Para que a recuperação fosse finalizada, como nas recessões de 1981-83 e 1989-92, em sete trimestres, a economia teria que crescer 6,6% em um ano. Nem otimistas contratados ousariam prever uma aceleração de tal nível, que ocorreu pela última vez quando o país viveu seu melhor ano da história recente, em 2010.
Se a economia brasileira crescer 0,9% em 2017 e 2% ao ano a partir de 2018, por exemplo, o PIB pré-crise só seria atingido em dezembro de 2021, somando nada menos do que 20 trimestres de recuperação.
E, mesmo se o crescimento a partir de 2018 fosse de 3%, como projetam aqueles que ignoram os efeitos contracionistas que o teto de gastos e a contração cada vez maior dos investimentos públicos terão sobre a economia, o PIB pré-crise só seria superado em junho de 2020 —14 trimestres depois de o fundo do poço ter sido atingido.
Enquanto o governo tenta vender tartaruga por lebre, os dados do IBGE mostram que, na recuperação mais lenta da história, 75% dos empregos criados são informais —sem carteira assinada ou por conta própria— e que o restante foi gerado no setor público.
Com a população ciente de que seu padrão de vida não está melhorando, o candidato que se propuser a defender o "legado de Temer" nas eleições de 2018 já sai derrotado.
Laura Carvalho é professora do Departamento de Economia da FEA-USP com doutorado na New School for Social Research (NYC). Escreve às quintas-feiras.
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