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    Leandro Narloch

    A direita caricata é xiita como terroristas islâmicos

    10/05/2017 08h00

    Pedro Ladeira - 2.mai.2017/Folhapress
    Protesto do movimento Vem Pra Rua contra decisão do STF que libertou o ex-ministro José Dirceu
    Protesto do movimento Vem Pra Rua contra decisão do STF que libertou o ex-ministro José Dirceu

    Pode-se questionar a decisão de STF de soltar José Dirceu, mas ela está longe de um absurdo ou um ultraje. A prisão preventiva do petista já levava quase dois anos; com o PT fora do poder, Dirceu já não pode cometer crimes como antes.

    Mas parte da direita agiu como se o STF tivesse se aliado ao demônio para transformar o Brasil numa Venezuela. Uma jornalista passou três horas —três horas!— ao vivo no Facebook repedindo que decisão sepultava a Operação Lava Jato. Nesta segunda-feira (8), manifestantes jogaram tomates no carro que levava o ministro Gilmar Mendes, que votou a favor da liberdade de Dirceu.

    A histeria e a intolerância atingem tanto a esquerda quanto a direita no Brasil. Das feministas aos antipetistas, todos estão prontos a apedrejar quem der a menor pista de pecador, quem cometer a ousadia de discordar dos profetas e das escrituras sagradas.

    No caso da "direita xucra", parece que há também uma dose de paranoia. Foi o que se viu nas reações à aprovação da Lei de Imigração. Um youtuber cristão disse que a lei provocará a "islamização institucional do Brasil". Um blogueiro previu que a aliança entre a esquerda e os muçulmanos fará o Brasil ter o mesmo destino do Irã.

    Gente, vamos com calma. Também não tenho simpatias com o Islã, mas não é para tanto. Não, não haverá uma islamização do Brasil. Muçulmanos gostam de países ricos, com empregos e bons para se fazer negócio; o Brasil não cumpre muito bem esses requisitos.

    Concordo que a imprensa deu pouca atenção à bomba atirada em manifestantes durante o protesto na avenida Paulista contra a Lei de Imigração. Um vídeo comprova a versão de que alguém contrário ao protesto jogou a bomba; é preciso que a polícia investigue e o homem pague pelo crime.

    Mas há um certo exagero (e vontade de ter os mesmos problemas da Europa) em considerar o episódio um atentado terrorista organizado. O site Senso Incomum chegou a dizer que esse foi o segundo ato de terrorismo no Brasil. O primeiro seria o "massacre do Realengo", em 2011, quando Wellington Menezes de Oliveira —um rapaz de 23 anos obviamente com problemas emocionais— matou 12 estudantes da escola onde sofria bullying.

    Desse jeito fica difícil. Nem com muita generosidade dá para levar essa turma a sério.

    leandro narloch

    Jornalista, mestre em filosofia e autor do "Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil", entre outros. Escreve às quartas.

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