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    Leandro Narloch

    Fábio Assunção e a responsabilidade de quem decide usar drogas

    28/06/2017 09h26

    Lenise Pinheiro - 13.mar.2015/Folhapress
    O ator Fábio Assunção
    O ator Fábio Assunção

    Depois da encrenca no interior de Pernambuco, quando bateu boca e foi preso por desacato, o ator Fábio Assunção publicou no Instagram um pedido de desculpas.

    Disse entre outras coisas que: 1. Não estava usando droga ilícita e que isso será comprovado por um exame toxicológico. 2. Será responsável pelos danos que causou.

    O primeiro item para mim é irrelevante; pouco importa se o ator agiu embalado por café, álcool, coentro ou cocaína. Prefiro um cocainômano bem-educado a um bêbado inconveniente. O que importa são as ofensas e o prejuízo que Fábio Assunção provocou aos pernambucanos.

    No segundo ponto, o ator disse o que eu queria ouvir: vai se responsabilizar, reparar os danos que cometeu. Tocou assim numa questão muitas vezes esquecida nos debates sobre drogas: a responsabilidade de drogados adultos por suas ações.

    Quem defende a legalização costuma se apoiar num ótimo argumento, o da liberdade individual. A pessoa deve ter o direito de consumir a droga que quiser, seja maconha, cocaína, edições da "Carta Capital" ou cigarros com sabor. Proibi-la seria invadir sua vida íntima e sua propriedade privada.

    Mas essa liberdade acompanha responsabilidade. Se o indivíduo decidiu sentir o gosto do perigo, precisa desfrutar também as consequências. Numa sociedade de adultos, se o drogado se prejudicar, a responsabilidade é toda dele. Também é uma invasão à vida íntima e à propriedade privada coagir cidadãos contrários às drogas a pagar impostos para cuidar de consumidores de drogas.

    Na polêmica de Fábio Assunção, muita gente criticou quem divulgou e se divertiu com vídeos do ator fora de si. Tony Goes, aqui na Folha, disse que a repercussão mostrava um "conservadorismo ignorante que avança no mundo inteiro". Peraí. Uma coisa é usar drogas, outra é ofender metade da cidade.

    Se Fábio Assunção tivesse cheirado cocaína e ficado no seu canto, ninguém reclamaria. Mas como saiu da linha, precisa arcar com as consequências –inclusive as consequências para sua reputação. Talvez no passado celebridades podiam ofender pessoas simples e sair impunes. Hoje, felizmente, são punidas pelas câmeras de celular.

    Muitos defensores da legalização se esquecem do detalhe da responsabilidade individual. Não querem que a sociedade se intrometa na sua vida quando bebem, fumam ou cheiram. Mas se algo der errado vão correndo exigir que os outros os aceitem ou resolvam o problema. "É preciso criar políticas públicas", "é papel da sociedade e dever do Estado resolver a questão", dizem por aí. Eis uma típica política para bebezões. Queremos direito a tudo e nenhuma responsabilidade.

    Se Fábio Assunção cheirava cocaína e se vai continuar cheirando, confesso que não estou nem aí. Mas torço para que ele cumpra sua promessa e seja responsável pelos danos que causou aos pernambucanos.

    leandro narloch

    Jornalista, mestre em filosofia e autor do "Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil", entre outros. Escreve às quartas.

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