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    Leandro Colon

    Plebiscito britânico sobre UE também decide futuro de premiê

    23/02/2016 02h00

    Não é apenas a relação entre Reino Unido e União Europeia que estará em xeque no plebiscito britânico no dia 23 de junho.

    O futuro de David Cameron no número 10 de Downing Street, residência oficial do primeiro-ministro em Londres, também dependerá do resultado das urnas.

    Cameron anunciou no sábado (20) a data da votação –a primeira do tipo desde 1975– e seu engajamento na campanha a favor da permanência na UE.

    Reeleito em 2015, ele encara um risco diante de um eleitorado, aparentemente, dividido. Se vencer, se fortalece por ter cumprido a promessa de dar aos britânicos a palavra final sobre o divórcio do bloco. Sepulta ainda a pressão de setores da política, da mídia e da população que cobravam o plebiscito. O rompimento com a UE, no entanto, será um constrangimento e um vexame político que tornarão inevitável a pressão no Parlamento por sua renúncia.

    Cameron larga na dianteira, com o apoio de lideranças europeias, como a chanceler alemã Angela Merkel, e do presidente americano Barack Obama. O premiê aposta, entre outras coisas, no temor da população ao que ele chama de "salto no escuro".

    Mas a campanha pela separação do bloco vai crescer até junho. Será talvez a última chance dos eurocéticos (contrários à integração europeia) de convencer a população a abandonar de vez o conflituoso casamento com a UE. Nas eleições britânicas de 2015, o Ukip, partido de extrema-direita anti -UE, obteve 13% dos votos, ou 4 milhões deles. É um percentual considerável, levando em conta ainda o racha no Partido Conservador, de David Cameron.

    O principal inimigo do premiê mora na sua própria legenda. No domingo (21), o prefeito de Londres e membro do Parlamento pelo partido Conservador, Boris Johnson, revelou que fará campanha pela saída da UE.

    Carismático, Johnson é apontado como o primeiro da fila de sucessão de Cameron. Na campanha anti-UE, tem ao seu lado figuras importantes do governo, entre eles o ministro da Justiça, Michael Gove, e outros cinco ministros, todos insatisfeitos com o recente acordo costurado pelo premiê em Bruxelas.

    De fato a negociação com as outras 27 nações do bloco é tímida para os padrões dos eurocéticos: restringe os benefícios a imigrantes nos primeiros quatro anos, diz que o Reino Unido não será discriminado por estar de fora da zona do euro, e protege o território das políticas de integração do continente. Na prática, muda quase nada.

    Cameron garante que conduzirá a transição de rompimento com a UE caso o plebiscito decida por esse caminho. Não deixa de ser bravata. O "The Guardian" lembra que ele chegou a escrever uma carta de renúncia na hipótese de vitória da independência da Escócia no plebiscito de setembro de 2014. O político conservador foi um dos líderes da campanha vitoriosa (55% a 45%) contra a separação escocesa.

    É irônico, mas pura realidade: a oposição no Parlamento é quem pode ajudar o premiê. Trabalhistas, liberais-democratas e o SNP (Partido Nacional Escocês) defendem a permanência do Reino Unido na UE. "Nós faremos campanha para nos manter na Europa, independentemente dos malabarismos de Cameron, porque isso traz investimentos, empregos e proteção para os consumidores e trabalhadores britânicos", disse o líder trabalhista, Jeremy Corbyn.

    leandro colon

    É diretor da Sucursal de Brasília. Foi correspondente na Europa, baseado em Londres, de 2013 a 2015. É vencedor de dois Prêmios Esso e de um Prêmio Folha de Jornalismo. Escreve às segundas.

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