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    Leandro Colon

    Cadê os milhões de dólares que Santana levou de caixa dois no exterior?

    01/03/2016 02h00

    Carece ainda de explicação o destino de US$ 15,5 milhões recebidos pelo marqueteiro do PT João Santana por meio de caixa dois em Angola e de outros muitos milhões de dólares da Venezuela, também não contabilizados.

    ‪‪‪A decisão do juiz Sergio Moro que prorrogou até quinta (3) a prisão dele e de sua mulher, Mônica Moura, deixou evidente a suspeita de outras contas bancárias escondidas no exterior, além da encontrada na Suíça.

    "Não excluo a possibilidade da existência de outras contas secretas no exterior ou no Brasil controladas pelo casal, já que as planilhas acima apontadas indicam pagamentos bem superiores a este valor", afirmou o juiz.

    ‪‪‪O "valor" citado na frase de Moro são os US$ 7,5 milhões já identificados em nome da offshore Shellbill, sediada no Panamá, controlada por João Santana. Do montante, US$ 3 milhões seriam da Odebrecht e US$ 4,5 milhões de empresas interessadas em Angola.

    Mas tem muito mais por aí. E quem deu a pista foi a própria Mônica, em depoimento, no dia 24:

    ‪‪‪1. A mulher do marqueteiro contou que, além da conta aberta na Suíça em nome da Shellbill, ela, Mônica, tem uma outra desde 2012 no mesmo banco (Heritage) tão somente para "receber sua parte nos repasses" de "divisão de lucros" transferidos pela Shellbill. Disse não se lembrar da offshore usada para abri-la, muito menos do montante recebido.

    ‪‪‪2. Segundo seu relato, o contrato para o marido trabalhar na campanha de José Eduardo dos Santos à presidência de Angola (2012) foi de US$ 50 milhões. Do valor, US$ 20 milhões escoaram via "contrato de gaveta", o popular caixa dois. Ela então falou nos US$ 4,5 milhões pagos diretamente na conta da Shellbill, na Suíça.

    Cadê os outros US$ 15,5 milhões do acordo de "gaveta"? Como foram pagos? Quem repassou o dinheiro? O depoimento não dirime isso.

    ‪‪‪3. A mulher de Santana afirmou ainda que o marqueteiro levou US$ 35 milhões para atuar na reeleição de Hugo Chávez, na Venezuela, em 2012. "Grande parte do valor foi recebido de maneira não contabilizada", disse. Relatou que Fernando Migliaccio, executivo da Odebrecht, atuou para "colaborar" na liquidação da fatura. Ela "acredita" que a empreiteira pagou de R$ 3 milhões a R$ 4 milhões (o depoimento menciona reais, não dólares).

    Se "grande parte" dos US$ 35 milhões foi repassada por fora, então por onde circulou essa operação paralela? Foi dinheiro vivo? Por offshore? Conta na Suíça? E quanto, exatamente, seria essa "grande parte" dos US$ 35 milhões?

    O casal ou ao menos Mônica (no caso de acreditarmos na versão de que Santana não se envolvia com contabilidade) deve ter as respostas.

    leandro colon

    É diretor da Sucursal de Brasília. Foi correspondente na Europa, baseado em Londres, de 2013 a 2015. É vencedor de dois Prêmios Esso e de um Prêmio Folha de Jornalismo. Escreve às segundas.

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