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    Leandro Colon

    O ministro da Justiça e o embate com a PF no mensalão

    22/03/2016 02h00

    "É outra lenda urbana", reage, gesticula e balança a cabeça o ministro da Justiça, Eugênio Aragão, ao falar da desavença que teve com integrantes da Polícia Federal no escândalo do mensalão, em 2005.

    São antigas as diferenças dele com setores da PF.

    Na época da investigação do mensalão, delegados acusaram o hoje ministro do governo Dilma de ter agido para barrar a transferência de documentos dos EUA para o Brasil.

    Segundo relatório da polícia daquele período, Aragão teria atuado, como subprocurador da República, para travar a remessa de papéis descobertos pelas autoridades americanas, sobretudo em relação a Duda Mendonça, marqueteiro da campanha do ex-presidente Lula em 2002.

    Setores da PF apontaram uma suposta parceria dele com Wanine Santana Lima, então coordenadora do DRCI (Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional), órgão do Ministério da Justiça.

    "O subprocurador-geral da República, Eugênio Aragão, atuou em conjunto com Wanine Lima para 'influenciar' as autoridades dos EUA a não repassar a documentação à PF", disse relatório policial, segundo relatou a Folha em 5 de novembro de 2005.

    Aragão, visto em Brasília como uma pessoa próxima do círculo petista, nega ter feito qualquer movimento para impedir o envio de documentos.

    Diz ele sobre o episódio: "Eu fazia parte do centro de cooperação jurídica da procuradoria e o procurador-geral da época, Antonio Fernando de Souza, me pediu para ir a Nova York porque a equipe da PF estava pegando documentos na procuradoria de lá, extratos bancários principalmente, levando ao consulado do Brasil, consularizando, e trazendo debaixo do braço, utilizando como se prova fosse".

    "Não estava sendo observado o acordo entre Brasil e EUA e estávamos com receio de que a defesa pudesse questionar a validade. Fui lá (Nova York) com a clara orientação de colocar isso dentro dos eixos", afirma.

    Aragão conta que então explicou a um procurador americano que, além do risco da falta de uma espécie de "cadeia de custódia" dos documentos, a chance de vazamentos era real. Foi quando, segundo ele, mostrou ao colega dos EUA um extrato obtido em território americano que havia sido publicado na imprensa brasileira.

    "Ele (procurador dos EUA) chamou os delegados da PF e passou uma descompostura neles. Ficaram (os delegados) irritados e aí fizeram um relatório contra mim dizendo que fui atrapalhar o serviço deles."

    O ministro repudia a versão de que, na verdade, queria impedir a transferência de provas ligadas a Duda Mendonça, que confessara o recebimento no exterior de recursos de caixa dois da campanha petista. "Não estive lá por causa de um ou de outro, mas por uma questão metodológica."

    Um procedimento contra Aragão foi aberto pela corregedoria do Ministério Público, mas depois arquivado, segundo ele.

    leandro colon

    É diretor da Sucursal de Brasília. Foi correspondente na Europa, baseado em Londres, de 2013 a 2015. É vencedor de dois Prêmios Esso e de um Prêmio Folha de Jornalismo. Escreve às segundas.

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